ANCIÕES DANÇANTES

Nem a condição de vulnerabilidade retira do rosto daqueles senhores e senhoras o sorriso e a alegria proporcionados pela perspectiva de fazer a sua apresentação de dança, talvez a primeira em suas vidas, naquela que é a semana dedicada ao idoso.

O grupo composto por mais de dez septuagenários vai apresentar-se-no Residencial "Rosa Branca". Casa destinada ao acolhimento de idosos cadeirantes e acamados.

É emocionante de encontro dos moradores com os visitantes que, caracterizados, perfilam-se no pequeno salão, onde ao som do violão e da velha gaita, bailam e cantam "...que beijinho doce foi ele que trouxe de longe pra mim.." as lembranças brotam e os perfis misturam-se na mesma sintonia e nas mais diversas recordações. A bailarina de setenta e oito anos, com o rouge no rosto e o carmim nos lábios, dirige-se à cadeirante octogenária, e com carinho oferece : ..."vovó vou dedicar-lhe a próxima dança..."

O grupo visitante tendo à frente o violeiro, dirigi-se pelo longo corredor e adentra-se no dormitório, onde muitos acamados

enchem os olhos de lágrimas ao ouvirem "encosta a tua cabecinha no meu ombro e chora..." Alguns cantam junto, pois todos reconhecem a música e a melodia reativa na memória, mas a maioria chora. Sim, muitos choram, lagrimas antigas, guardadas que trazem em si as lembranças de tantos abraços dados ou recuados.

A emoção paira no ar. É o momento em que desaparecem camas, cadeiras, andadores, e o que passa a encher o ambiente são as lembranças vívidas e brotantes no coração de cada um, daqueles que em algum dia lá no passado ouviram: "...quem chora no meu ombro eu digo que não vai embora..."

CEIÇA
Enviado por CEIÇA em 04/10/2015
Reeditado em 09/10/2015
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