EMPATIA

Empatia é a capacidade de uma pessoa se conectar com o próximo, compreendendo os sentimentos, emoções e situações que ela vivencia. Comumente, podemos constatar essa habilidade em episódios de grande comoção ou euforia, quando os indivíduos instituem uma coletividade em catarse.

Todavia, eu me reservo a apreciar a nossa capacidade individual de abstração, na tentativa de compreender o pequeno universo particular de outra pessoa, despindo-se integralmente de qualquer julgamento prévio ou resquício de personalidade.

Os maiores problemas do mundo são os nossos... isso é uma verdade absoluta. Mas considerando as peculiaridades da sociedade e da própria natureza humana, acredito que enfrentamos uma crise profunda de identidade, na qual cada indivíduo estabelece os próprios parâmetros e regras de conduta.

É controversa a situação, pois ao mesmo tempo que desenvolvemos um sofisticado modelo de juízo e julgamento, acabamos por nos distanciar das peculiaridades que cercam o sistema de verdades próprias desenvolvido por outras pessoas.

Parto da hipótese de que todas as pessoas são boas - mas o conceito de bem e mal é praticamente único, mesmo entre indivíduos que seguem uma doutrina religiosa, uma filosofia de vida. Em tese, trata-se de uma questão ética sobre quem somos na sociedade, e como nossas condutas estão entrelaçadas com a coletividade.

Assim, eu analiso que fico comovido com a morte trágica de alguém que desconheço, mas ao mesmo tempo não consigo expressar nenhuma palavra amiga ou dar apoio para um conhecido que passa por problemas.

Não podemos ter a pretensão de resolver o problema dos outros – especialmente quando os nossos estão pendentes de resolução. Mas como seres sociáveis, deveríamos ao menos ter a sensibilidade de demonstrar que sentimos que o outro passa por dificuldades. Percebo que as pessoas estão menos suscetíveis na demonstração da solidariedade legítima – aquelas que até os animais demonstram com os seus semelhantes.

Diante de tantas adversidades e problemas, é compreensível aceitar que não podemos mais ser ingênuos; todavia, essa situação nos tornou brutos demais para a modelo de sociedade que desenvolvemos nos últimos séculos e, querendo ou não, observou preceitos religiosos para a constituição das famílias.

É complexo imaginar que ao mesmo tempo que evoluímos como sociedade, ficamos inertes ou mesmo retrocedemos como espécie. Voltando a premissa de que os maiores problemas do mundo são os nossos, porque consigo estabelecer uma conexão muito maior com um estranho do que com um amigo ?

Apesar de não querer acreditar, o cenário mais plausível é simples: a proximidade pode trazer maiores responsabilidades. A menor tragédia pessoal do nosso conhecido trás consequências diretas ao nosso cotidiano e isso pode criar um incômodo.

Nesse aspecto, vislumbro a perda da empatia: chegamos ao ponto em que não queremos mais problemas para resolver, e nos colocamos em um papel paliativo de apenas “demonstrar educadamente” que nos importamos.

No caso de luto, obviamente não possuímos nenhuma capacidade de reparar a perda; todavia, podemos amparar a pessoa até que ela se reestabeleça, sem prévios julgamentos... cada um reage de forma particular perante as adversidades. Me sinto constrangido ao ouvir críticas sobre como as pessoas enfrentam o seus problemas, quando não oferecemos ou podemos disponibilizar uma solução.

Eu não tenho nenhuma vocação para santo – apenas perco parte do meu tempo racionalizando sobre pequenas questões que muitas vezes passam despercebidas. Vendo as novas gerações, constato que elas não são melhores ou piores do que as outras, mas apenas que são diferentes. E não posso fazer uma crítica porque tenho consciência que a minha geração iniciou esse processo de flagelação dos relacionamentos interpessoais.

Ficou fácil demais ter um amigo... tão fácil que, quando menos esperamos, nem temos mais nenhum contato com ele. Seguem o mesmo padrão os relacionamentos, o comprometimento com o trabalho. Como comentei, infelizmente acho que simplesmente não temos interesse em ajudar o próximo ou a causa que realmente podemos auxiliar.

Assim caminha a humanidade... quando perdermos o instinto básico de colocarmos no lugar de outrem, e defendermos apenas aquilo que é de nosso interesse, ficaremos mais próximos de um colapso social, e consequentemente nos tornamos cúmplices da degradação.

SEBASTIÃO SEIJI
Enviado por SEBASTIÃO SEIJI em 05/10/2015
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