Mundo Cão


                                      "O bom humor, como o mau humor
                                       contagiam. Qual deles vais escolher?
 
 
 
 
                  Na minha mocidade, recordo-me perfeitamente que os  cineastas italianos fizeram uma série de filmes com o título “Mundo Cão”. Era mostrado o nosso mundo no que tinha de pior. Costumes selvagens, povos primitivos vivendo na miséria, pessoas estranhas, guerras absurdas. Enfim, tudo que poderia chocar o homem  dito civilizado.
                  E naquela época, após o horror da segunda guerra mundial, até que o mundo era ameno e uma onda de otimismo tomava conta de todas as pessoas.
                  Hoje, não precisamos mais assistir ao filme “Mundo Cão”.
                  Diariamente, nos confrontamos com um mundo pavoroso, em todos os sentidos, sem sair de casa.
                  Qualquer um de nós, por mais displicente ou ignorante que seja, percebe que existem no homem tanto a brandura como a selvageria. A compaixão como a extrema brutalidade coexistem no ser humano. A dificuldade está em estabelecer uma harmonia entre esses extremos.
                  Diante desse quadro dantesco é que acabei por me forçar a adotar o bom humor como forma de atenuar o lado ruim da vida.
                  Claro, sem a ingenuidade de fechar os olhos e fingir que não existe o “mundo cão”.  O que não vou fazer é reforçar a agressividade que também possuímos e lamento que escritores de novelas exagerem no lado mal do ser humano e até inventem situações deploráveis, que na vida comum dificilmente acontecem. Escrever tragédias é fácil, difícil é exercitar e apontar exemplos de  bondade.
                  Um grande autor,  cujo nome não consigo me lembrar, já disse que a piada tem o dom de desmoralizar algo que precisa ser mudado. Essa afirmação me faz lembrar uma carta do japonês Yamamoto,  que deplorava, em 1920, a atitude dos militares japoneses que faziam tudo para colocar o Japão na estrada da agressão, o que atraía a antipatia pelo País. E encerra este comentário com certa graça ao dizer que metade do Governo do Japão e 80%  dos militares viviam sonhando com agressões. E arrematava: mas ultimamente muitos já acordaram. E aproveito para dizer que  no momento estou bem desperto para evitar fazer amizade com novelistas.
                  Bem, é isso que estou procurando passar para meus amigos e amigas, nesta conversa informal. Bertrand Russell, em um dos seus momentos de desânimo com o rumo que o mundo tomava, apresentava esta imagem:  a vida está tão tenebrosa que parece que estamos todos numa eterna noite bem escura, perdidos como náufragos no meio do oceano e, de vez em quando, escutamos uma voz ao longe pedindo socorro.
                  Mas cabe a nós despertar deste pesadelo e avançarmos rumo a uma verdadeira civilização, sem perder o bom humor.
                  Por exemplo, se é para jogarmos bombas em pessoas indefesas, alimentando um clima de trevas,   não seria melhor,  como queria um amigo do Russell,   discutir a intrigante razão pela qual as mulheres insistem em usar batom?   
Gdantas
Enviado por Gdantas em 06/10/2015
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