CONSIDERAÇÕES SOBRE A ANSIEDADE

Não me considero uma pessoa radical – teimosa sim, às vezes arrogante. Mas na medida das minhas limitações, tendo permear minhas ideias e convicções em dois aspectos: o primeiro, minha fé em Deus e, em segundo, criar critérios para evitar contradições éticas, morais e emocionais.

Obviamente, até mesmo pela minha natureza, fico frustrado quando erro ou com as coisas não acontecem da forma que eu gostaria. Nada mais humano. Mas eu tenho consciência de que muitas vezes eu convivo com um sentimento de culpa que acaba representando um fardo por demais pesado – assim como eu sei que magoei pessoas por simplesmente desistir ao ver o desenrolar dos eventos e prever as consequências nocivas.

Sinceramente, eu gostaria de evoluir espiritualmente, e conseguir perdoar a mim mesmo e algumas pessoas. O antônimo de amar não é odiar, mas sim ignorar ao ponto de não se importar mais. Racionalmente, a partir do momento que eu não consigo conviver com os meus erros, eu deixo de exercer aquilo que denominamos como “amor próprio”.

Não estou passando por um momento crítico – pelo contrário, me sinto abençoado. Mas não posso ignorar que existem pessoas em aflição, na busca de resolver os problemas. Infelizmente, há questões insolúveis; outras que não possuímos nenhuma capacidade de intervir para resolvê-las. Mas o que talvez seja o maior problema é quando acreditamos que podemos enfrentar e vencer o desafio.

No meu caso específico, adotei uma postura passiva diante do cotidiano: eu oro agradecendo por todas as graças que obtive, e pela misericórdia naqueles momentos mais difíceis. Há uma diferença básica entre graça e misericórdia: na primeira, somos simplesmente abençoados e na segunda, auxiliados na resolução dos problemas. E quanto aos dilemas e questões que não consigo resolver... bem, peço para que Jesus Cristo ilumine o meu caminho. Deixei de pedir que as coisas aconteçam de acordo com a minha vontade, mas sim que seja feita a vontade Dele – porque ao dar esse passo de fé, eu me resigno com os desígnios.

Não espero que do nada eu atinja os meus objetivos – faço a minha parte, e tento ser o melhor pai, namorado, profissional, amigo e colega. Mas confesso que não foram poucas vezes que eu refleti e questionei a demora na satisfação daquilo que “... eu plantei.”

A questão da personalidade egocêntrica, derivada do arbítrio, faz de cada pessoa seres singulares. Mas voltando a insistir, não há pessoas perfeitas, que são destituídas da capacidade de pecar. Acredito que hajam pessoas que estipulam critérios particulares para resguardar seus pensamentos e ações daquilo que é errado... mas ao mesmo tempo, imagino o quanto seja difícil a prática desses pecados.

È uma questão interessante a análise da parábola do filho pródigo: ele renegou o pai, usufruiu os bens de herança e no final retornou à família. No mesmo sentido, a parábola da ovelha perdida. Para nossos critérios humanos, é comum a aceitação da relação causa-efeito; porém, para uma vida emocional e sentimental mais equilibrada, eu acredito que é muito mais aconselhável a conscientização de que somos humanos e imperfeitos, e aprender a conviver com os nossos defeitos.

Conviver com a ansiedade trás duas consequências nefastas: sofrer por antecipação ou de forma desnecessária. O mero fato de não saber quando, como e se o problema será resolvido gera uma angústia terrível. Não sou contrário que ninguém tente solucionar a questão, mas não acredito que seja saudável se martirizar por eventualmente não conseguir.

No meu caso específico, deixei de pedir aquilo que desejo, mas sim aquilo que for mais benéfico para mim e as pessoas que fazem parte do meu cotidiano. Não resolve de forma eficaz a minha questão com os meus “fantasmas”, mas ajuda a conviver com a sensação de imediatismo inerente a cada pessoa. Alguns diriam que eu tenho a “ilusão” de que o melhor vai acontecer, e que sou ingênuo em acreditar nisso.

Não vou analisar questão de ser simplório e ingênuo, mas eu realmente prefiro acreditar que se uma coisa não aconteceu ainda, é que ela irá acontecer em uma oportunidade mais adequada ou seria algo nocivo para mim e por isso não ocorreu.

Essa capacidade de abstração espiritual me ajuda mais do que o ruidoso e insano conceito doutrinário pregado por algumas religiões: afinal, não consigo ter uma conduta perfeita por não ser perfeito. E consequentemente, se eu não consigo atingir um objetivo é por que não fui merecedor. Novamente, a questão causa-efeito.

Muitas pessoas se frustram exatamente por isso: acreditam sinceramente que fazem por merecer o que desejam, esforçando-se para controlar seus atos e pensamentos. Mas a relação com Cristo não é assim: invariavelmente, teremos as bênçãos sem “merecer”, ou passaremos por provações e privações que em nosso conceito são injustas. Nesse último caso, é necessário acreditar que mesmo na noite mais escura, Deus sempre está no nosso lado nos amparando... para a maioria, isso é pouco. Mas mesmo enfrentando o mais profundo sofrimento, precisamos ter a percepção de que alguns pequenos milagres acontecem em nossa vida, nos auxiliando na nossa jornada.

Enfim, a nossa habilidade em lidar com as oscilações do cotidiano é que nos fazem pessoas melhores... a partir do instante que temos a consciência de que nosso tempo é diferente do tempo de Deus, ficamos menos suscetíveis aos sentimentos nocivos como a ansiedade. Como disse, eu prefiro acreditar que se algo não aconteceu ainda é porque Ele vai quer o melhor para mim...

SEBASTIÃO SEIJI
Enviado por SEBASTIÃO SEIJI em 07/10/2015
Código do texto: T5407426
Classificação de conteúdo: seguro