onde convidamos a vida

O poema do fim do dia. O poema do fim do dia, é o poema do fim do dia. O fim do dia, sem o poema do fim do dia, é uma espécie de fim do dia sem poesia. Todos os poemas do fim do dia têm poesia? Não necessariamente. Porque os poemas do fim do dia, mais não são que a procura da felicidade em versos e a descoberta que nem sempre estamos felizes. O que não é forçosamente uma infelicidade, mas não é o contrário.

Hoje estarei triste, contente, ou, assim assim? Ainda não decidi e só o poema me poderá decidir e, o mais certo, é o poema não decidir nada. Como é que eu posso saber? Primeiro, antes de tudo, tenho de escrever o poema. Algo estranho, este “antes de tudo”.

Gosto infinitamente desta procura do poema, precisa de tempo e pode não nos dar tempo. Quando isso acontece, somos obrigados a descobrir que o drama é a fala ser muda e não ter mímica: ficando sem respirar, a sentir que a vida, sem ar, é irrespirável!

Felizmente podemos decidir desistir, sem fazer a triste figura dos versos...

a triste figura dos versos

mergulhando nas órbitas

vazias dos olhos vazados

na caveira onde nascemos

para uma ideia que nos faz

sentir abandonados sem ter

inspiração que nos permita

aspirar poder ainda expirar

na triste figura dos versos

procurando viver o crânio

como uma toca com vida

onde convidamos a vida

{Chamei "crónicas poéticas" a breves leituras de poemas, esta foi mais a escrita à procura do poema.}

Francisco Coimbra
Enviado por Francisco Coimbra em 25/06/2007
Código do texto: T540857