O frio da minha alma

Ahh, o inverno. Estação rigorosa em alguns locais do globo, amena em outros e às vezes nem sentida por certos povos. Época que esfria meu coração e na qual eu preciso de algo que aqueça minha alma. Quando abro a janela, sinto a solidão que o vento gelado traz consigo e, ouvindo o ranger das janelas que precede a escuridão, sinto uma nostalgia. Bem, provavelmente o leitor já deve ter notado que o inverno não me traz boas sensações. Contudo, meu amigo, a tristeza que me abate na mesma proporção em que cai a temperatura já teve, em seu lugar, momentos felizes em que o chocolate da manhã fazia com que quente ficasse o meu coração. O leitor que perdoa o uso dos hipérbatos com as excessivas inversões sintáticas, mas preciso adjetivar cada momento para depois apresentá-lo. Assim é o inverno para mim: lembro-me das sensações antes de lembrar-me das pessoas, lembro-me das risadas antes de recordar as companhias. Porque, meu amigo, havia um tempo em que os raios de sol brilhavam mais do que este meu abajur que uso para enxergar as letras e que a cor branca da neve era mais intensa do que o brilho desta lâmpada fluorescente. Mas a solidão que me acompanhou nos anos seguintes tornou o inverno sinônimo de frieza na alma e do mesmo acústico do Tim Maia cantando suas desilusões e alguns contos góticos e ultrarromânticos. Minha namorada eu perdi, minha família morreu, cada amigo meu tomou seu rumo e o frio congelante de -20ºC do Canadá me deixa trancado em casa e sem vontade nenhuma de fazer qualquer coisa. Talvez o leitor se identifique ou sinta repulsa por esta crônica depressiva e amarga. E, apesar de tudo, prometo-lhe: peço em todo inverno alguém que adoce este coração azedo e aqueça esta alma gelada.

Policarpooo
Enviado por Policarpooo em 10/10/2015
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