O PalavrÃO nosso de cada dia

Já é madrugada, o tic-tac do relógio marca mais de três da manhã e eu preciso fazer uma crônica. Penso. Nada me inspira. Acendo e apago a luz. Nada. Vou ao banheiro e depois pego um copo d´agua na cozinha. Nada. Deito-me novamente.

Da minha cama ouço os cachorros latirem, aliás, como latem esses cachorros! O calor é sufocante, o ventilador não dá conta, o quarto parece em chamas, minha cabeça dói, minha cama está quente... Não agüentando mais, desabafo: PUTA QUE O PARIU QUE NOITE DOS INFERNOS... ! Parece mágica.

Os cachorros ainda latem, mas não tão alto como antes. O calor diminuiu, minha cama já não está tão quente. Minha dor de cabeça vai aos poucos se aliviando e finalmente minha inspiração vem. Milagroso palavrão!

O Bundesnachrichtendienst, Serviço Federal de Inteligência alemã, também é um palavrão, mas não é desse palavrão a que refiro o meu milagre. E eu que pensava, que aquelas palavras feias que aprendemos quando criança e que vão se multiplicando e tomando sentido com o passar dos anos, tivessem o singular objetivo de insultar ou agredir verbalmente alguém. Hoje percebo que não. E digo mais, percebo ainda, que o palavrão é de fundamental importância na vida de qualquer ser humano.

Eis os porquês:

O palavrão é simplesmente um santo remédio para a cura de qualquer enfermo. Já imaginou se você descesse a martelada no seu dedo e não dissesse um palavrãozinho sequer? A dor certamente seria muito, muito maior. Ou já pensou se você guardasse para si, tudo o que sente quando vê na TV os “mensalões” da vida, dinheiro na cueca, máfia disso, CPI daquilo e tudo acabando em pizza? Você com certeza não dormiria de noite, perturbado pelos mais terríveis dos pesadelos.

Mas isso não acontece sabe por quê? Porque você xinga, diz palavrões e o palavrão alivia, acalma. Como eu disse, o palavrão é um santo remédio, e o melhor é que não se necessita de receita e nem apelar para os genéricos. É de graça, com apenas uma consoante e uma vogal você já é capaz de adquirir o seu. Alguém se arrisca em um palpite?

Muito se engana quem pensa que as utilidades do palavrão acabam aí. Além de ser um eficaz remédio, o palavrão se transforma em importantes adjetivos, podendo representar tanto algo ruim quanto algo bom.

Posso dizer que aquele filme que fiquei meses esperando entrar em cartaz, é ruim pra CACETE, provavelmente você perceberá que o filme não me agradou muito. No entanto, posso lhe dizer que aquele jogador que veste a camisa dez do meu time, simplesmente joga pra CACETE (e joga mesmo), dessa forma você entenderá que o cara é bom de bola. Viu só como, o mesmo CACETE, pode variar de significados?

Portanto é isso. O palavrão é de longe, uma das melhores invenções já feita pelo homem, e a verdade é que todos xingam: seus pais, seus avós, a Gisele Bündchen e até mesmo o padre Marcelo Rossi. Todos, invariavelmente. Sorte a deles.

Pronto! Agora posso ir dormir, porque minha crônica não ficou boa pra CARALHO, mas também não ficou uma BOSTA (eu acho). Mas também, de que isso importa?

O importante é que está feita e os cachorros pararam de latir.

Boa noite.