Assassino Suicida - Parte II

Desde que matara a si mesmo jamais encontrou a paz de outrora contida naquele menino de sorriso inocente.

Tivera dias complicados, tenebrosos, frios, instáveis. Não encontrara prazer ou força para viver em nada com o que tentara inutilmente distrair sua mente. Sangrava por dentro - através do coração dilacerado que mais parecia ter sido atravessado por mil adagas em brasa - e por fora, através de seus pulsos, numa tentativa insana, quase beirando a ingenuidade, de aliviar a dor latente que deixava todo o seu corpo inerte.

Por vezes, no sombrio da madrugada, sentava-se à janela do seu quarto imundo como sua própria alma, passava as mãos pelo cabelo negro que mais parecia uma cascata descendo até seus ombros em ondas desgrenhadas, encostava sua cabeça no beiral da vidraça suja enquanto teimava em lutar contra as lágrimas quentes que já rolavam por sua face e tentava encontrar uma razão para continuar a existir: Nada. Não havia um conselho divino sequer, quem quer que fosse o habitante daquela imensidão negra à seus olhos, estava quieto como as estrelas.

Como um animal ferido que lutava para manter seus sinais e continuar a viver, fora preenchido de repente por uma rajada forte de esperança. Talvez houvesse uma saída. Talvez algo, de alguma forma, fosse capaz de preencher de vida o menino dentro de si outra vez.

Mas como uma nevasca fria que chega sem avisar, algo frustrara seu otimismo com a rapidez de uma águia: Uma lembrança. Apenas uma mera recordação da figura destruída que outrora lhe dizia através do espelho: "Você o matou. Você matou para sempre aquele menino."

NOTA DA AUTORA: Esse texto é uma continuação de: http://recantodasletras.com.br/cronicas/5216658

Gabi Lima
Enviado por Gabi Lima em 14/10/2015
Código do texto: T5414458
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