Crônica de um coração amoroso

Fico aqui imaginando o olhar de Maria, a de Nazaré, sobre a demonstração de fé em um dia marcado para homenageá-la.

Um olhar brilhante, iluminado pelas demonstrações de carinho.

Ano passado, Maria acompanhou Antônio, em sua peregrinação de cem quilômetros com uma cruz nas costas, pés e ombros feridos no sacrifício de pagar uma promessa.

Acompanhou também Patricia, jovem mãe, que depois de dez anos de tentativas, finalmente tem nos braços o filho tão desejado, vestido de anjo. Percorreu toda a procissão de pés descalços.

E observou, ainda, com o coração agoniado, mas feliz, a recuperação de José, que mesmo depois de uma debilitante pneumonia, resultante de um organismo desnutrido e fatigado, teimou em puxar a Corda da Berlinda, mãos feridas, mas coração regozijante.

Este ano, Antonio não pode comparecer ao Círio, preferiu ficar dentro do abraço do filho, que retornou depois de dez anos de ausência e várias tentativas de aproximação, buscando 'perdão' por ser gay.

Patricia, esta também não pode ir, não tinha ninguém que a substituísse no cuidados aos pequeninos da creche onde é voluntária, e logo no dia das crianças, com festa e tudo, quem já viu, deixar todo mundo na mão?!!

E José? José também não foi, tinha o conserto voluntário das benditas cadeiras de rodas do asilo, que amontoam-se por falta de mão de obra, nem todo mundo sabe fazer, ele sabe, e gosta, mesmo com o coração apertadinho, acompanhou tudo pela televisão.

E Maria chorou, chorou de emoção pela grande, a maior homenagem que seus filhos lhes fizeram este ano.

Grace Moraes
Enviado por Grace Moraes em 25/10/2015
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