Choupana ou barracos

Viajei com os nordestinos (retirantes) que migraram para Manaus e encontraram as suas “houses” em uma choupana. Não precisaram mais comer ratinhos, pois os ribeirinhos se embriagavam com os peixes e a cada dia escolhiam um novo prato regado a palmito.

Viajei com os “paraíbas” que migraram para Curitiba e que terminaram seus dias no Rio de Janeiro. Cabra da peste esperto que aprendeu a viajar sem dinheiro. Cabra matreiro que encarou a favela e naquela ruela ficou conhecido como Zé Minhoca. Abriu caminho a tapas, pois não tinha nada a perder e o tráfico matou a sua fome e também lhe deu o seu primeiro botijão de gás. Severino (Bil) tomou posse de um barraco desativado cujos habitantes foram expulsos pelo tráfico. Severino conseguiu sua primeira mansão, agora ele se sente um cara privilegiado, pois faz suas compras num supermercado e já se acha no direito de realizar seu sonho que é comprar uma televisão.

Bil diz que para ele balas perdidas não são ameaças, pois nunca teve medo nem do cangaço e bebe suas cachaças sem nenhuma preocupação, porque na sua filosofia a gente só vai morrer quando o nosso pai do céu precisar de mais um jardineiro em sua mansão. “E quem nunca bateu peteca, minha biblioteca se limita a poucos livros e quem se atrever a chamar meus velhos livros de sucata irá levar um nó no topo da gravata. Não cheguei à tecnocrata, nunca usei uma gravata e nem sei direito o que é ser um autodidata, mas jamais me perfilarei às juras de perdição. Não tenho dúvidas de que quando eu for chamado estarei com minha pena nas mãos”.

Severino aprendeu a ler nos livros da estrada e somente esta faculdade ensina um homem a sobreviver a quaisquer circunstâncias ou adversidades da vida e, mesmo sem dinheiro, Bil aprendeu a falar a língua dos caminhoneiros e estes profissionais não deixam ninguém na mão. São sempre solidários, pois já subiram o seu calvário para receber a sua crucificação.

Já manchei toda a minha camisa tentando esboçar um novo sorriso para a Monalisa. Condenaram-me como louco, pois misturei o barro do barroco com o rococó.

moraesvirada
Enviado por moraesvirada em 27/06/2007
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