PORANDUBA AUÁ?

O título acima é uma saudação. Sua tradução é: - Qual a novidade, gente?

Esse idioma esquisito foi a primeira língua falada em nosso Brasil varonil, durante um bocado de tempo, embora nessa época o dialeto predominante se chamasse nheengatu ou língua geral, e era falada pelos jesuítas, comerciantes, habitantes e bandeirantes.

A partir de uma certa época, muito tempo depois de estarem todos acostumados a esse idioma, cá em terra brasilis, e por causa de injunções políticas lá nas oropa e na matriz lusa de nosso território, ainda colonial, foi imposto o fim da tranqüilidade comunicativa e a volta do bom e velho sotaque castiço de Camões. Acontece, que mesmo tendo de aprender a falar como os portugueses, os naturais desta terra nunca deixaram de intrometer muitas palavras de origem indígena no novo vocabulário, e isso fez com que nos tornássemos, nos dias atuais, dialetantes do idioma que chamamos, erradamente, de português, mas deveria ser porturani. Bonito, né?

Vamos fazer uma pequena análise de nossa situação linguo-dental.

Onde você mora?

Sorocaba? (terra rasgada) Araraquara? (ninho das araras) Urubici? (areal das aves)

Itanhaém? (a pedra que fala) Niterói? (o mar escondido) Uberaba (água que brilha)

Quais alimentos você conhece melhor?

Aipim? (raiz enxuta) Amendoim? (fruto enterrado) Abacaxi? (fruto cheiroso)

Goiaba? (sementes juntas) Jaboticaba? (comida de jaboti) Mate? (bom pra beber)

Paçoca? (bolo esmigalhado) Pipoca? (pele estalando) Tapioca? (tirado do fundo)

E as palavras, costumeiramente, usadas por todos nós?

Babaka – virado, retorcido Biboca – casa pequena de barro Caçula – filho mais novo

Canjica – grão mole capão – ilha de mato Catapora – fogo que espalha

Gambá – peito oco Igarapé – caminho da canoa Jacaré – que olha torto

Jururu – triste marimbondo – mosca que flecha Nhenhenhém – tagarelice

Pamonha – grude Taquara – pau furado Xará – tirado do meu nome

É claro que não é só o tupi-guarani que incorporou palavras em nosso idioma oficial. Há uma série, nada pequena, de palavras, usualmente faladas, de origem árabe, espanhola, francesa, inglesa, russa e outras mais. Muitos vocábulos, originários de dialetos africanos, são nossos conhecidos, e só perdem em quantidade para os seus primos tupiniquins.

Vale dizer que nossa língua mãe é uma colcha de retalhos.

Isso, porém, não surpreende ninguém, já que a formatação cultural de nosso povo foi se consolidando, através de influências dos portugueses, holandeses, franceses, açorianos, índios naturais, de várias nações, africanos, castelhanos, italianos, polacos, alemães, japoneses e mais uns tantos, em menor número, que forjaram uma mistura braba de etnias, costumes, jeitos e tradições, enriqueceram nossa cultura, e mesmo gerando efeitos colaterais, como a corrupção institucionalizada e a malandragem, geraram uma bagunça folclórica e pitoresca, de cujo meio sobrevive, a duras penas, uma gente alegre, sorridente e perseverante, mesmo nas situações adversas e num meio social perverso.

Então, quando você vestir um “short” de “jeans”, “mocassim”, meia “soquete”, “blusa” de gola “role”, à luz do “abajur”, passar na “cozinha”, encarar uma “tapioca” e um “pingado”, sair e pegar um “ônibus” para ir até o “boulevard” do centro comercial, comprar “quinquilharias” e se entupir de “fast food”, jogar “games”, “bater papo”, “matraquear”, “zanzar” por aí com a “turma” e fazer um “fuzuê” daqueles; tenha noção de que está rodeado de informações, aparentes ou não, nas mais diversas linguagens, que absorvemos e consideramos como nossas.

Na boa, Xará! Não entra numas e se vira nos trinta, sacou? Tudo em riba, numa nice!

Só não vale querer exagerar na dose e querer abrasileirar algumas expressões já bem enraizadas, como “brain storm” (tempestade cerebral), que define uma reunião de profissionais, focados em produzir novas idéias, novos conceitos. Já ouvi alguém designar tal procedimento como “toró de palpite”. Convenhamos que desse jeito partimos para a “avacalhação”.

nuno andrada
Enviado por nuno andrada em 26/10/2015
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