Poeiropolis Revisitada.

Revisitando minha terra querida, saindo pelas ruas, conversando com pessoas e também com alguns animais, pude ver muitas coisas e ouvir outras. O que vi com meus próprios olhos, acabei por acreditar. Pessoas se contorcendo na mentira, forjando e criando histórias da vida do próximo como se cria uma lesma dentro do cérebro. Para alguns, com relação ao que ouvi a respeito de minha pessoa era que havia me mudado para Katmandu, me casado com uma nativa, tido onze filhos, viajado para a Patagônia cultivar abobrinhas, passado uma temporada debaixo de um viaduto em Santa Cecília, me convertido ao candomble e ao budismo, passado a me alimentar apenas de fluido solar, ganhado na loteria esportiva e desaparecido para a Ilha de Páscoa, comprado chinelas haitianas contrabandeadas no Nepal, assassinado minha cadela e me alimentado de sua carne num ritual aborígene na Austrália, mergulhado meio louco no fundo do oceano em busca da Atlântida perdida, virado Empresário, mendigo, andarilho, Rufião, Vegetariano, Canibal, perdido e encontrado desorientado na floresta amazônica, com malária, sífilis e febre tifóide... Mas, estou aqui! Como as pessoas são imaginativas! Se usassem o cérebro com a mesma intensidade com que usam a língua, teríamos uma sociedade rica em escritores ao invés de uns míseros fuxiqueiros de plantão nas esquinas do beco do balanga-beiço.

Cristiano Covas
Enviado por Cristiano Covas em 03/11/2015
Reeditado em 03/11/2015
Código do texto: T5436376
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