De banana em banana

Papai, acho eu, no princípio comia banana! Um dia, jogando a casca da banana fora, ela caiu cobrindo uma pequena pedra que lhe deu uma ideia: estava descoberto o primeiro chapéu e o primeiro telhado que nos protege até hoje do calor e da chuva (?).

Ai então, saímos das cavernas, acho eu, por causa das bananas. Depois, mamãe percebeu mais valores nas bananas, bananas quase estragadas viraram doces e cascas de bananas bananadas. Macerada a banana, dela, por brincadeira, se fazia máscaras, que se lambia e se comia traduzindo inúmeras brincadeiras no dia a dia.

Das folhas das bananeiras bem trançadas, se fez muita coisa, coberturas de visuais plásticos, naquela época, de rara beleza e de banana em banana fomos escorregando. Papai e mamãe, usando bananas, fortaleceu a família e eu nasci. Nasci no período pós-banana, pois o Éden já estava inventado. Meu pai evoluído construiu jardins, pomares e uma casa de taipa. Frutas, legumes e comida em nossa mesa era farta. O que eu poderia fazer então?

Fui fazer coisas que me vinham à cabeça. A primeira a reconhecer o meu ofício foi minha mãe, que falou: que menino arteiro; descobri então que sou artista. Peguei então uma banana, que juntei com outras frutas: foi o meu primeiro trabalho e, ficou ali, bem na sala, só não viu quem não quis aquela composição bela, que a noite, por fome: comi.

Percebi que papai conservava certos costumes que o engessava. Um deles era o dinheiro, guardava debaixo do colchão. Só que papai, bem velhinho, já tereré, sem poder reagir, não percebeu: peguei o seu dinheiro e investi na última moda daquele tempo: a bolsa, uma tal de valores. Ganhei muitos dividendos que me possibilitaram abrir um grande negócio, uma grande fábrica de doces de bananas, gostosos e bons e que hoje exportamos para todo o mundo. Nosso produto: bananas. Nossa marca empresarial: Brasil.

Vicente Freire

04 de novembro de 2015