Em busca de novos horizontes a desfrutar - Um novo começo
Desperdicei, dissipei dias e noites com paixões, ilusões, devaneios, quando adolescente. Devorei meus primeiros anos de juventude com quimeras, sonhos irrealizáveis, improváveis. Menina inconsequente, desobediente.
Pois é. Às vezes, vivemos resquícios do passado fissurados num futuro inexistente, e, insanamente, tratamos o presente com desdém. Porque o passado ainda está presente nas marcas que deixou. Porém, o presente urge uma atitude sensata: construir o futuro, aqui e agora.
Se não aprendermos a lidar com a dor e a frustração, sucumbiremos a destinos irremediáveis. Aprendi esta lição tardiamente. Mas, enquanto há vida, há razão para transformá-la. Todos sabemos que é no presente que se arquiteta o futuro que se deseja. É no presente que se corrige os erros do passado ou eles nos perseguirão por toda a vida.
Imatura, mas com vontade de amadurecer, superei a dor, a paixão e a saudade. E recomecei... Não... Na verdade, comecei.
Comecei a refletir sobre os meus desejos não realizados, metas não alcançadas, passos que não foram dados.
Da varanda da minha casa, comecei a perceber a serenidade da paisagem verde e límpida do campo, a tranquilidade que habitava os lares dos camponeses vizinhos. Fascinei-me com a felicidade que via transbordar dos sorrisos das crianças ao comer o fruto na árvore, ao apostar corrida de bicicleta no asfalto esburacado.
Comecei a observar as pessoas que me cercavam, crianças, adolescentes, jovens, ávidos por novas descobertas, desejosos de atenção. Pela primeira vez, interessei-me por suas vidas, por seus sonhos e ideais. Talvez eu pudesse fazer por eles o que gostaria que alguém tivesse feito por mim.
Descobri que havia ao meu lado pessoas que alimentavam os mesmos sonhos, que eram privadas dos mesmos direitos e prazeres que eu. Juntos, alcançaríamos nossas aspirações, chegaríamos mais longe.
Ponderei sobre a sugestão que me fizera aquele sujeito que tanto amei, mas cujo coração não fui capaz de cativar. Dissera-me ele nas últimas linhas da última carta, sugerindo que eu o esquecesse: “Vamos em busca de novos horizontes a desfrutar!”
Em busca de novos horizontes. Foi exatamente o que fiz. Deixei de lado minhas ilusões românticas e dediquei a maior fração do meu tempo para reinventar e executar ações comunitárias que promovessem o desenvolvimento social e a organicidade da minha comunidade. Desfrutei das alegrias, das esperanças e das realizações de uma grande família de irmãos, filhos e filhas do mesmo Pai.