A felicidade alheia.

Essa semana não tem sido fácil pra mim. Aliás, creio que muita gente concordaria comigo. O fim de ano está chegando e vem acompanhado de uma crise sem igual. As coisas estão difíceis para nós aqui no nosso país, principalmente para as pessoas comuns, desprovidas de um grande amontoado de dinheiro, e que tem, todos os dias, de levantar cedo e sair para mais um dia de trabalho. Isso quando se tem um trabalho, já que a situação não está favorável nem para isso. Pessoas boas sofrem, já diziam os antigos.

Em nosso país isso é muito comum, visto que nossa pátria é deseducada e desigual, aliás, ela é muito “des”. Teriam tantos outros “des”, que poderia citar vários que se encaixariam aqui, mas não pretendo ser tão longo. O que acontece é que pessoas boas também podem ser ruins, ou não tão boas quanto parecem ser. Tínhamos, antigamente, em nossa principal característica, o de ser gentil e amigável, isso é claro sob o ponto de vista de quem vinha de fora. Todos que aqui chegavam, quando voltavam para seu país natal, diziam que éramos um povo hospitaleiro. Sim, isso é verdade.

Mas quando se trata de ser gentil e cordial entre nós mesmos, bem, isso não funciona. Outro dia li uma reportagem de um garoto que teve seu muro pinchado por pessoas que não o aceitavam como ele era. Esse garoto era homossexual e só queria ser feliz. Não é pedir muito é? Pois para muitos, aqui nas terras onde Cabral gritou “Terra à vista”, isso é pedir muito. Direito a felicidade tem quem vai à igreja, casa com alguém do sexo oposto e constitui uma família linda, com várias crianças (de preferência brancas). Aqui o conceito de felicidade é só um.

Ah, mas eu sou solteira e gosto de me divertir, transar, curtir a vida sem namorar, por pura e simples opção. Não pode. E se eu não gostar de garotas? Não pode. E se eu for menina e gostar de meninas? Não. Você não se enquadra na classe predominante de pessoas boas do nosso país. Veja bem, se você acha que todo esse preconceito vem daqueles marginais, que saem e voltam cada vez piores para dentro das nossas penitenciárias que mais parecem chiqueiros, bem, sinto dizer, mas você está errado.

Quem cria o padrão e caça os infiéis e desmerecedores da felicidade, é, em geral, a população comum. Você seu João, que acorda todos os dias ás 5 da manhã para trabalhar, e volta tarde da noite cansado. Ou quem sabe a dona Maria que cuida dos quatro filhos e da casa e ainda tira um extra fazendo “bicos” em casa de gente rica. São essas pessoas que controlam a felicidade alheia. Veja bem, se você tentar mudar a mentalidade de um senhor de 60 anos, desista, ele não vai mudar. Foi criado em uma cultura diferente e aprendeu de forma diferente. Não dá. Agora se você não tem 60 anos, bom, então você não tem motivo para pensar dessa forma.

O amor é livre, não tem escolha padrão. Não há felicidade comum, ou escolha para todos. A vida nos proporciona um bilhão de opções e nos limitarmos a dizer que só uma escolha é a certa é burrice. Não, não é uma escolha ou opinião, repito, é burrice. A vida é muito curta, ás vezes, curta demais e se nós nos atemos a detalhes tão simples quanto o de querer controlar a vida alheia, nós iremos apenas perder tempo. A opção e a escolha de cada um só cabe a ele e se ainda assim você acha que pode pensar de forma contrária, tudo bem, relaxe.

Você tem o direito de pensar e até mesmo de conversar sobre isso. Mas nada além disso. Sejamos mais cordiais e vamos celebrar o amor, a vida e as opções que ela nos dá. Todos nós temos várias e mudar a forma de pensar não o torna ruim, só mais humano.