CAFÉ DA TARDE

Um pequeno resfriado e um leve mal estar, fizeram com que Maria Clara naquela quarta feira, excepcionalmente, encerrasse seu expediente às quinze horas. Acostumada a uma rotina estressante das sete às dezoito horas e de segunda à sexta feira, ela estranha o fato de as três horas da tarde estar livre, andando pela cidade e resolve passar pela casa da mãe.

Há ruídos e muita conversa no interior da casa materna, Maria Clara chega e depara-se com um quadro incomum na sua vida de funcionária pública. Na mesa posta, a mãe rodeada de familiares, todas tomando o café da tarde. Entre tagarelices e banalidades, ouve-se, ao fundo, o som do rádio, que a mãe insiste em manter na Rádio Itaí, onde o locutor entra no ar anunciando o seu programa: "Café da tarde". Maria Clara admira-se e ri, descobrindo um universo tão diferente da sua pilha de formulários e processos.

Estão ali mulheres, algumas jovens, que desfrutando de muita liberdade, talvez amanhã abdiquem do encontro da tarde para participarem da reunião do Clube de mães, onde serão debatidos assuntos pertinentes a suas vidas de mães, de esposas e de donas de casa. De profissionais, talvez. Maria Clara desconhece esse tipo de encontro e não sabe a qualificação das participantes. Enciúma-se e frustra-se pois esses também são seus papéis. Papéis esses que questiona se são executados com o melhor ou o pior de si, após as oito horas de trabalho.

A imaturidade dos seus trinta anos, faz nesse momento, a jovem funcionária acreditar que o trabalho, que enobrece e dignifica, compre a sua liberdade, fazendo-a sentir-se prisioneira de um sistema cruel, exigente e desumano.

Constatações feitas, fica o vazio, o qual deveria ser preenchido pelo sentimento de gratidão pelas conquistas diárias, as quais por tantas vezes tem um valor muito maior que o dito "café da tarde"!!!

CEIÇA
Enviado por CEIÇA em 17/11/2015
Reeditado em 17/11/2015
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