IRÃO ME PRENDER

É quase certo que irão me prender.

O que eu fiz? 

Nada, mas agora farei.

Começo com um grito de alerta:
estamos prestes a viver uma ditadura. Já vivemos a ditadura de todos os caloteiros, vivemos a mando dos traficantes e contrabandistas, somos vítimas dos caloteiros de carteirinha ou de cartaz.

Resolvi que não mais calarei. Chega de pagar impostos e ver o dinheiro ser dividido entre lobistas e parlamentares. Chega de saber que não funcionam mais os conselhos de ética, que terminam os inquérito e que ninguém aparece como punido.
Basta de saber que protestos já se constituem quase como crimes. Chega de ouvir frases absurdas dos ministros quando comentam sobre algum fato que chateia o povo e o contribuinte. Basta de saber que falta dinheiro para pagar salários, precatórios, mas têm felpudas verbas destinadas ao legislativo que somente é rápido para legislar em favor dos próprios salários e ao judiciário que demora tanto para julgar que depois ninguém lembra quando, como e até quem foi o criminoso ou meliante.

Sim, podem me prender, porque falarei da falta de verbas para melhorar as escolas, os hospitais, as estradas; faltam investimentos para que possam ser criados mais empregos, possa melhorar a segurança, possa ter melhores equipamentos para o controle do tráfego aéreo no Brasil.
Eu preciso ser preso porque não se consegue manter na prisão aqueles que roubam muito e por causa de quem pagamos tantos impostos, por causa de quem a violência não se reduz pela metade, a falta de emprego não está quase zerada; por causa de quem há filas de pessoas esperando vagas para internação e tratamento de saúde urgente.
Eu preciso ser preso porque não admito que deputados e senadores se acovardem diante das evidências e façam vista grossa porque os acusados são compadres ou amigos.
Eu preciso ser preso porque acho que a Polícia Federal e o Ministério Público não merecem ser criticados pelo trabalho que realizam. Se não fossem essas duas instituições e sequer saberíamos de todas as falcatruas que existem.
Mas se tudo isso não basta para me prender então sobra mais uma: eu não admito que a imprensa seja tolhida, volte a censura, isto é, a DitaDura.

Podem ter certeza que, se eu for preso pelo crime que acabo de cometer, a DitaDura terá iniciado. Serei um futuro mártir dela e talvez minha família receba uma bela indenização no futuro por causa dos sofrimentos que os opressores tenham me causado e pela falta que fiz a essa família durante a minha reclusão.

Garanto a todos: não me refugiarei no estrangeiro. Ficarei aqui aguardando a prisão merecida e não fugirei da cadeia. A única coisa que quero é um processo de verdade com tanta duração quanto necessária para provar minha grande culpa. 

Será que mais alguém se sente como eu?