Folhagens Higienizadas

Há algum tempo atrás, num dia qualquer, estava eu no supermercado e lá tive a honra e a infelicidade de presenciar o ápice da desgraça humana.

Não me lembro da hora, do dia e nem do que buscava naquela infinidade de gôndolas, cheias de variedades. Talvez fosse começo de noite, aquele famoso finzinho de tarde. Já estava terminando as compras, na ala das frutas e legumes, pois, afinal é lá que estão os ingredientes para as saladas.

Saladas... Essa coisa que vinha comendo bastante ultimamente, na tentativa de ser mais saudável e, quem sabe, até perder algum pneuzinho, confiando na ideia mágica de me livrar das gorduras sem grandes esforços. E nisto, na geladeira mais próxima, eis que vejo o auge da busca por praticidade: Folhagens higienizadas.

Era que dizia a plaquinha. Sim, alface lisa, crespa, americana e até rúcula, todas lavadas e ensacadas, por apenas o triplo do preço de um pé comum.

Como se não bastassem todos os homicídios, mentiras, roubos, inveja, preconceito, egoísmo e as duas guerras mundiais na nossa história, é impressionante como nós, seres humanos, com telecéfalo altamente desenvolvido e polegar opositor, nos rendemos tão facilmente à preguiça, inclusive por um alto custo.

Sempre buscando cada vez mais o desnecessário, mergulhando nesta zona de conforto do inútil, que só nos afunda mais e mais. Por que, afinal, quanto tempo se gasta para lavar um pé de rúcula? É tão mais prático assim comprar “higienizado”?

E o pior, a constatação do auge da sujeira, da podridão, da ignorância e da depravação humana: a cena seguinte. A finalização do ato, o caixa, meu carinho, os produtos e, dentre esses, o tal alface higienizado. Eu comprei.

LizaBennet
Enviado por LizaBennet em 25/11/2015
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