FIM DE ANO

FIM DE ANO

Agora que o final está próximo, eu sinto no ar o cheiro de pólvora, dos fogos de artifício que logo serão queimados. Eu insisto em recordar, o inicio do ano, diante de um céu estrelado e na névoa da fumaça dos fogos misturada com o brilho de algumas tímidas estrelas, eu sorria feliz para o futuro próximo. Ele chegou logo após as badaladas e aos poucos a sensação de novidade e renovação deu lugar à rotina alucinante que cerca meus dias.

O primeiro semestre escorreu pelo ralo, e o segundo está quase no fim. Encontro-me com meus pensamentos de meio de semana, emburrecidos pela repetição de velhos padrões, de velhos hábitos que insistem em morar nos sulcos de minha mente. Estes pensamentos estão cambaleantes, logo morrerão. O ano velho também.

A gente morre um pouco a cada fim de estação, preciso pensar assim. Nem me arrisco a pensar em mais um ano. Sinto-me tão frágil. Um vento pode derrubar-me. Uma chuva pode ser fatal. A picada de um inseto pode trazer conseqüências irreversíveis. Uma volta de bicicleta pode ser a última. A vida é tão fugaz. Vivo o momento. Dou-me este presente. Sorrio para as manhãs que teimam em cumprimentar todos os seres, mesmo sabendo que a maior parte não nota sua presença.

Existe muita poesia no cotidiano. O vento que brinca inocente e levanta a saia da jovem inexperiente. O sol teimoso queima a pele da anciã que tenta se proteger com camadas e camadas de creme protetor. O oceano com sua profundidade e enigma insolúvel devolve em outras costas o lixo que recebeu lá longe do outro lado do planeta. Existe muita oportunidade de aprendizado com o cosmos. Existem infinitas possibilidades de dar certo, na vida, no próximo ano, no minuto seguinte.

É apenas o final do ano que se aproxima. Uma pausa num momento para o relógio imaginário do tempo marcar outra etapa, nova fase.

A verdade é apenas uma. Tenho medo do final. Já está tudo certinho, este que se vai eu sei o que aconteceu. O que vem, trará muitas possibilidades. Não fico ansiosa para o futuro. Nem sei se lá estarei, pois não descarto a possibilidade de na hora H ver o ano novo chegar e permanecer no ontem. Até que me acostume com o novo. Novas idéias, tragédias, ideologias, notícias, manchetes, teorias, reprimendas, reclamações, desejos, amores, soluços, dores, mágoas, desafetos, vinganças, lucros, benefícios, sacrifícios.

Então antes que ele se acabe mesmo, começo a sentenciá-lo para ser eterno no momento presente. E todos os dias serão os melhores que viverei daqui para frente, pois tenho a certeza de que estarei presente no hoje e agora, para sempre então o futuro não me assustará mais com seus mistérios insondáveis.

Comemorarei cada dia com mais alegria de viver e a certeza de que somos eternos se conscientes no agora.

Aradia Rhianon
Enviado por Aradia Rhianon em 27/11/2015
Código do texto: T5462213
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