No velho oeste

Gosto daqueles filmes de faroeste. Lembro-me da atuação do Clinton Eastwood em Três Homens em conflito. É de arrepiar. Tem o clássico, Era uma vez no Oeste. Potente, pomposo e muito bem dirigido pelo falecido Sergio Leone. Grandes filmes, grandes atuações, com uma única singularidade: Os mais rápidos no gatilho sempre ganhavam.

Penso que a idéia do deputado Laudivio Carvalho (PMDB-MG), autor do texto base do projeto que acaba com o Estatuto do Desarmamento para criar Estatuto de Controle de Armas de Fogo, está totalmente embasado no seu desejo, assim como o meu, de viver no mundo do faroeste com um colt na cintura e pronto para se defender e fazer justiça.

A diferença entre o meu desejo e o dele é que eu me contento com a sensação sentado em frente a televisão ou a tela do cinema, vendo aquela loucura, mas duas horas depois, sinto a necessidade de voltar para o mundo civilizado, onde temos leis, polícia e educação.

Eu sei que a justificativa dele é válida. Eu sei que grande parte dos brasileiros, ou pelo menos aqueles que se pronunciam sobre o assunto, são favoráveis as leis que facilitam o acesso a compra de armas de fogo. Sei e respeito isso, mas assalta-me a memória a idéia que a obrigação de proteção deve ser oferecida pelo estado e não colocada nas costas e nas mãos dos cidadãos.

A criminalidade aumenta? Então vamos armar todo mundo para resolver o problema? Será? Será que facilitando o acesso as armas, teremos um controle maior sobre a criminalidade? Parece-me meio contraditório. Creio que o que teremos, será um aumento significativo nos casos de vizinhos matando vizinhos, homens de bem que perdem a cabeça no transito e saem atirando em todo mundo e por ai vai.

A idéia que o bandido ficará inibido por causa das armas que estarão com os “cidadãos de bem” é tão retrograda quanto a idéia de que elas serão usadas somente para a defesa da sua família e de seu patrimônio. Vai mudar sim as coisas, mas para pior. Armar o cidadão não é e nem nunca será a solução, ao contrário do que dizem os adesivos de pára-brisas por ai.

A solução não é permitir que o próprio cidadão defenda seu lar, mas melhorar a qualidade de nossas forças de segurança, aumentando efetivos, equipando nossas polícias e melhorando o nosso emaranhado sistema judiciário.

Precisamos sim nos armar, mas não com um revólver, precisamos nos armar com leis mais severas e que sejam cumpridas igualitariamente. Precisamos nos armar com uma educação de qualidade e com oportunidades para as classes de risco. Precisamos nos armar com a vida e não com a morte.

Mahatma Gandhi disse a seguinte frase: “Eu sou contra a violência porque parece fazer bem, mas o bem só é temporário; o mal que faz é que é permanente.” Não se pode combater arma com arma. Não que isso não seja justo, mas porque isso não resolve o problema, apenas cria outro, tão grave quanto, que é a violência comum mascarada pela legitima defesa.

São raras às vezes em que um cidadão de bem leva a melhor sobre um bandido. Isso, porque o bandido na grande maioria das vezes está mais preparado para fazer o que for preciso, enquanto o cidadão de bem, tem muito mais a perder. É muito mais comum os homens de bens serem mortos por reagirem a assaltos do que o contrário.

Precisamos combater a criminalidade com educação. Não essa educação medíocre e pobre que oferecemos hoje. Precisamos fazer com que nossos jovens pensem. Precisamos dar ao nosso estudante a possibilidade de ser racional. Seres pensantes e não repetidores de idéias.

Se acabarmos com o escárnio deslavado da corrupção e da falta de capacidade administrativa em todas as nossas esferas, certamente sobrarão verbas para investir nos alicerces básicos da nossa sociedade, e assim, atacaremos a criminalidade na raiz. Precisamos destruir a criminalidade antes que ela encontre o criminoso.

Como escrevia o pensador Immanuel Kant “O homem não é nada além daquilo que a educação faz dele.” Vamos permitir que a nossa educação faça de nossos jovens, cidadãos de bem.

A criminalidade sempre existiu e sempre vai existir. O estado tem a obrigação de combatê-la. Contê-la. Esmagá-la. O cidadão tem o direito de ser protegido. O estado não pode de jeito nenhum jogar armas aos seus cidadãos e esperar que a lei do olho por olho impere e que com ela consiga combater a criminalidade. Se é para nós mesmos nos protegermos então vamos dispensar a policia, vamos rasgar as leis e aposentar os juízes, promotores e políticos, vamos viver no velho oeste.

Como parece que sou voto vencido nesta discussão e por via das dúvidas, já estou dando um jeito de providenciar um cavalo, chapéu e botas de cowboy. Só por garantia. Vai que né...

Jonas Martins
Enviado por Jonas Martins em 28/11/2015
Código do texto: T5464059
Classificação de conteúdo: seguro