CARDUMES

Onze horas e o sol de janeiro é escaldante. Luiz chega e coloca o balde no chão. Maria aproxima-se e abraça o marido. A roupa úmida e as mãos molhadas de Luiz envolvem a jovem esposa que encostada ao peito do marido, não deixa de sentir o cheiro forte de peixe. Feliz abaixa os olhos e vê o balde cheio de sardinhas grandes. O almoço está garantido.

Luiz que tinha saído ao clarear do dia, passara a manhã na pesca, atividade essa que ele ama e que lhe dá o sustento. Porém nem todo o dia é dia produtivo, e aquele fez o jovem pescador cansar e gastar muitas minhocas até o cardume das dez se aproximar. Caniços lançados, olhos grudados a qualquer movimento na agua. Coração apertado e a esperança sempre presente. A sorte muda e o brilho das sardinhas nos anzóis provoca a alegria de todos. Alguns caniços ao subirem trazem consigo quatro, cinco pequenos peixes suspensos. E a adrenalina presente quebra o silencio que toda boa pescaria requer. É o momento de ouro, é a retirada do peixe, que se for muito pequeno deve ser devolvido, ao seu leito natural, para a devida maturação.

O pescador queixa-se para a esposa da longa espera até a chegada do cardume das dez!! Maria ajuda o marido na limpeza dos peixes, é um serviço árduo em que, junto a uma bica d'água no fundo do quintal é colocada uma tabua, onde Maria com uma faca abre as sardinhas e retira todas as suas vísceras. Há no ar o cheiro da maresia e Maria a cada pequeno peixe devaneia sobre suas nadanças, nesse grande mar de meu Deus. E assim a esposa toma conhecimento das proezas do marido e da chegada do bendito cardume das dez. Maria sorri sem perceber que Luiz tenta tirar um anzol cravado na mão direita!

CEIÇA
Enviado por CEIÇA em 29/11/2015
Reeditado em 25/09/2023
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