Esse tal de amor ...

Considero mágico compartilhar coisas boas e, por esse motivo, valho-me deste espaço para falar um pouco sobre um curso do qual participei em 2011 com Affonso Romano de Sant´Anna, um nome inegavelmente brilhante na literatura brasileira, na minha opinião. O tema central foi “O Amor na Poesia Brasileira”.

Três manhãs delirando com os seus ensinamentos, encantada com o que estava aprendendo com esse homem sábio e simples ao mesmo tempo.

E ouvir e aprender sobre o amor então? Há coisa melhor?

O curso fez parte do Festival de Inverno promovido pela Secretaria de Cultura de Porto Alegre, que acontece anualmente. Imperdível!

Por ser impossível citar, pelo menos a metade do que ouvi, arrisco-me a tecer algumas considerações levantadas por ele, que considero interessantíssimas para os apreciadores da literatura.

A partir de 1850 começa uma cultura da ambiguidade – a cultura cristã começa a aparecer através da figura da Virgem Maria. Começam a falar de Maria, Vênus e Afrodite. A Maria (santa) e a Maria Madalena (prostituta). Forma-se uma equação, tendo a mulher como: Maria sobre Vênus e Afrodite.

Chega então o positivismo (muito forte no RS), quando a “mulher é considerada superior, porque se submete às vontades do homem” (Teixeira Mendes). O homem passa a ser produto de duas mulheres = a mãe e a mulher que escolheu. A desconstrução da imagem projetada pelo homem passou a ser a grande prova a ser vencida pela mulher.

O homem começa a construir mitos até mesmo para lidar com a mulher menstruada. Como conviver com alguém que sangra?

Na literatura romântica, houve realmente uma ambiguidade muito grande – havia a mulher “comível” e a “mulher para casar”.

Do século XVIII até 50/60, pode-se considerar a base de uma exposição de alucinação coletiva sobre o amor. E os leitores participaram dessa neurose, considerando:

– a história do amor representa a repressão do desejo (é complementar);

– a história da literatura é masculina (era!);

– corpo do homem ausente – corpo da mulher presente;

– de 60 até agora, o corpo do homem começa a aparecer a partir de poetas mulheres;

– Cecília Meireles foi uma das precursoras da fala sobre o corpo feminino.

E, por fim, na minha análise, algumas considerações que merecem uma reflexão profunda:

– A história do amor é a história do medo, do medo da asfixia (um pouco da história do homem com a mãe);

– A história da literatura universal é de péssimos amantes – nada realizado quanto desejado;

–Culinária, comida e bebida sempre estiveram relacionadas ao amor;

Amor, amor & amor.

Ah... mas tanto amor e, para coroar, foi-me apresentado o livro “Canibalismo Amoroso”, na época esgotado nas livrarias, mas presente nas estantes virtuais.

Daí pirei com tanto amor!

(publicado no livro PROSA NA VARANDA 3 - Grêmio Literário Patrulhense - lançado em 01/12/2015)

Rosalva
Enviado por Rosalva em 02/12/2015
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