Comentário para "Um Poema Escondido", do amigo José de Castro

Comentário para "Um Poema Escondido", do amigo José de Castro




"Aquele peixe que pesquei ainda criança,
de brilho espetado a faiscar no anzol das lembranças".

Prezado amigo e escritor José de Castro, impossível principiar esse comentário sem antes agradecer humildemente suas palavras. Vossa poesia, lição de sutileza, de sintonia fina, folhas transparentes de chá perfumado em tarde calma arejada por paineiras em flor, saber muito antigo posto presente.

"Ternuras tais que farão adormecer as tristezas".

Procuro o Poema Escondido desde......? Não sei. Os dias andam rápidos, oscilantes, o inesperado espreita, atritos levianos se insinuam, a oração fortalece, a contemplação, rara, caolha, procura se instalar para que eu ache a cadência da minha voz emudecida diante do que não posso reconhecer apenas com as pupilas.

Estaria esse poema de que falas nas "cidades pequenas, onde os homens sabem ser grandes"?

Às vezes, amigo, embora muito raramente, caminhe com passos de gigante, noventa e nove por cento do tempo sou tartaruga esmiuçando grãos. E quando me deparo com o "tamanho das crianças que sabem brincar de ser adultos sem competir, sem sentir inveja, livres do ciúme, livres de toda malícia", bem, os grãos se tornam montanhas, parece que encontrei o Poema Escondido. É seu. A dimensão de um cerne não pode ser mensurável, mas curiosamente encontramos uma medida exata quando o ser brande o cetro e cria.

Aretha Franklin, através de um velho sucesso, cantou na sua voz única:

Roube a coroa de um rei// Quebre as asas de um anjo// Mas você nunca destruirá minha fé.

O ventos de agora, e olhe que em dias de chuva creio com serena diligência, em dias secos trepido, em dias estranhos me seguro numa fita durex, enfim creio que os ventos de agora não mais permitirão que coroas sejam furtadas e asas dilaceradas.

Ao te ler, vejo uma coroa de rei. Penso numa das muitas versões que envolvem o lendário Arthur, cercado pelos cavaleiros da Távola Redonda e pelo mago Merlin. Antes de subir ao trono ele foi jovem. Jovem como você. Assim, vejo-o como um jovem rei incrementando na aventura da expressão a virtude da bondade, da consideração, do conhecimento intangível da centelha e decerto, e não poderia ser de outra forma, o viço que escorre de sua pena revela um traço de desbravamento por novas aventuras no campo da palavra. São as palavras certas, as do tipo que soam revelando Poemas Escondidos.

Deixo um forte abraço de admiração pelo sua obra e eterno agradecimento pela generosa contribuição aos meus garranchos.


(Imagem: August Johann Rösel von Rosenhof, , 1705-1759)



 
Bernard Gontier
Enviado por Bernard Gontier em 06/12/2015
Reeditado em 04/07/2020
Código do texto: T5471379
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