Ai de mim Niterói ...
 
Olho na parede ... viro e reviro a folhinha calendário, que de alguma forma, parece achar graça na minha aflição.
Escondidos entre as pequenas folhas de papel e por trás de pelo menos uma dezena de dias, lá estão os dois números: iguais, cabalísticos, insensíveis, absolutamente frios e ainda tão distantes de serem alcançados.
O dia 22 de dezembro está chegando, e finalmente vou me reencontrar com uma jóia, que jamais alguém poderia imaginar descobrir. Uma gema de valor incalculável, que adorna, desde sempre, como um raro e precioso brilhante, a belíssima baia de guanabara ... minha doce e querida Niterói.
As mãos trêmulas e incontroláveis, arrancam mais uma página da pequena folhinha de dias e meses ... já não falta tanto !!!
Um alvoroço intermitente, por vezes, açoita com suave brandura o meu pobre e saudoso coração. Fico imaginando como serão as conversas que terei com a minha amada Ponta D’areia, onde aprendi tanto de viver.
Rendo-me às lembranças de tudo aquilo que sempre tive ao meu lado, e que de alguma forma ajudou a construir a personalidade de alguém, que aprendeu que amar é o único e melhor dos detalhes que o ser humano deveria conhecer.
Vou viver, por alguns dias, a serenidade que exacerba e transborda beleza aos olhos de sua gente simples e abençoados mortais.
Vou escolher um final de tarde e ficar alí, sentado naquele banquinho, na Praia das Flechas observando o sol fugir, se esgueirando, sorrateiramente pelo horizonte, numa visão indescritível de como talvez, naquele exato instante, o Criador, tivesse tido a mais pura inspiração sobre a construção do Seu jardim pessoal.
Sei que ao cruzar a ponte minhas fibrilações atriais vão aumentar.
Sei que vou ouvir os gritos estridentes das gaivotas, ao perceberem a minha simples mas apaixonada presença.
Sei que o vento forte vai trazer-me a impressão de ouvir uma voz perguntando onde andei.
Sei que vou achar que a cidade está mais linda do que nunca e que aquilo que talvez pareça feio para muitos, aos meus olhos será a visão de algo erudito e maravilhoso.
Sei que, intimamente, como se fora uma confidência, ao cruzar a ponte, vou finalmente poder dizer baixinho, como um sussurro ... tô aqui de novo !!!
Sei que vou passar pela rua Santa Clara, em frente ao número 67, fechar os olhos e tentar me fazer acreditar que jamais deixei de estar por alí.
Sei que, de repente, apesar dos longos anos, me tornarei íntimo novamente das suas ruas, das suas calçadas, das suas esquinas e de cada um dos seus segredos, quaisquer que sejam.Vou beber da terra que emana leite e mel, servidos diretamente pela taça do meu coração.
Vou sentar num daqueles bancos do Galeto, no centro da cidade, pedir dois chopps, segurar firme a mão de Tânia e, na mais simples expressão da palavra do interior paulista, onde vivo há tantos anos, dizer :
 
Caráio Véio ... Vortei !!! Oooppps ... Voltei !!!
Germano Ribeiro
Enviado por Germano Ribeiro em 10/12/2015
Reeditado em 12/12/2015
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