'Como era Verde meu Vale"

“COMO ERA VERDE O MEU VALE”

Numa tarde de ócio, liguei para diversos canais de televisã0 em busca de um bom filme. Lamentavelmente só encontrei películas de extrema violência, de assaltos, karaté , kung fu, sobre drogas, etc., que são absorvidos como péssimos exemplos pela nossa infância e juventude, frutos de uma exportação da indústria de fins lucrativos americana e importados, sob as bênçãos de nossas autoridades, pelos responsáveis pela distribuição de filmes. Além disso, ainda temos os vídeos games de péssimas qualidades, para envenenar a mente da infância que passa horas e horas perdidas com suas mãozinhas inocentes a movimentar uma manivela ou um controle remoto, para que seu "herói" destrua um presumível inimigo. O que é pior, comprado e incentivado pelos pais, para os acomodarem num canto de um quarto ou sala, lhes dando tempo para foguetear ou mesmo trabalhar.

Lembrei-me então dos saudosos tempos de minha infância, quando uma tropa de meninos se sentava ao redor de um idoso Contador de histórias para ouvi-lo nos deliciar com fantásticas aventuras de fadas e bons mocinhos, heróis de aventuras românticas para conquistar o seu amor, que nos deixava enlevados de sonhos.

Recordei dos belos filmes de então, como os maravilhosos Casa Blanca, Strombolli, Da vida Nada se Leva, a Ponte de Warterloo, O Maior Espetáculo de Terra, O Corcunda de Notre Dame, Sangue e Areia, Por Quem Os Sinos Dobram, O Fantasma de Opera, os épicos como Os dez Mandamentos, Ben Hur, Spartacus, Sansão e Dalila, Cleópatra, e até o brasileiro, O Pagador de Promessa. Também os cômicos como Segure o Fantasma, com Bud Abott e Lou Costello, o Gordo e O Magro, o Pecado mora ao Lado, cujo nome contradiz o enredo; Natal Branco, o mavioso Noite de Natal, Cantando Na Chuva, Do Mundo Nada se Leva, os belíssimos musicais interpretados por Bing Crosby, Frank Sinatra, Cid Charrisse, a Bety Gable, Dom Ameche, Tyrone Power, os suntuosos como a Valsa do Imperador, com as romântica valsas vienenses, o som da orquestra de Geswheen, Amstrong, as aventuras de Tarzan e os mais "violento", Flash Gordon; e mesmo os blues, jazz ao som do saudoso Louis Amstrong, a alegríssima musica de ye-ye-ye, o fox-trote, o samba no pé, o respeitoso cumprimento do cavalheiro solicitando dança à dama, o horário do sabonete Tabarra, e outros divertimentos maravilhosos e sadios. As serenatas ao som do violão e um retorno ao lar sem violências e desrespeito aos próximo tão comum nos dias atuais.

Quando eu observo o cenário atual, dói-me o coração e no mais profundo do meu íntimo, inclusive por ouvir por o âncora do nível de Boris Casoy, defender a exibição pela TV de tais filmes. Tenho realmente grande saudade do tempo antigo no que diz respeito ao comportamento social, e não porque sou um idoso e sim por amar a paz, ter recebido uma boa educação. Quem não sentirá saudade do tempo que o rapaz vestia seu melhor terno, com o espírito inundado de emoção e com flores, ia ao encontro da namorada. Por sua vez, a mocinha ficava horas e horas no espelho se ajeitando com a ajuda da mãe ou irmãs, para se apresentar da melhor maneira para seu "príncipe encantado", e sutilmente se atrasava um pouco para causar expectativa ao seu par romântico, que a mãe sabiamente aconselhava-a não ficar enrubescida e assim se "amostrar" ansiosa.

Havia os versos de amor e as serenatas nas noites enluaradas. Sentávamos nos jardins das praças para namorar e ouvir as retretas das "bandas" de música, sem quaisquer constrangimento ou receios.

Nasci quando o automóvel engatinhava, o rádio era objeto de rico, a vitrola era movida a manivela, a eletricidade e água encanada só nas casas de grande poder aquisitivo, do bonde, do trem com nome de Maria Fumaça, do cabriolé, dos Itas, das árvores sempre verdes e dando saborosos frutos, de beijar a mão do padre, de não falar antes dos mais velhos, de ir a missa aos domingos, assistir a missa do galo, jogar peladas nas campinas, beber leite ainda quente do peito, ouvir a banda de música tocar nas praças dos jardins, e jamais ouvir um palavrão. Aliás, lembro-me de uma ocorrência: eu viajava num bonde chamado gigolô, quando diversos rapazes estavam conversando. Um, quando ia desembarcar, gritou em tom de anarquia: "lembrança a tua mãe" e logo recebeu um cachação do comissário Ivon que se encontrava no limiar da porta, com a recomendação de respeitar as mães. Era essa a educação antiga!

Vou encerrar minhas lembranças pois elas me deixam muito constrangido, não porque sejam tristes mas porque o contraste com o quadro de hoje é dolorosamente pungente. Contudo, desejo dar meu último suspiro de saudade, escrevendo em letras maiúsculas: "COMO ERA VERDE O MEU VALE", nome de uma fantástica e inesquecível película cinematográfica, e lamento profundamente minha memória já envelhecida não possa fazer justiça citando o nome de artista e filmes que encheram nosso passado de sonhos e romantismo, levando ao deleite os corações da juventude sadia daquela época. As escolas públicas eram as que melhor ensinavam. Os grupos escolares mantinham obrigatoriamente um "Ofeão". Ensináva-nos, obrigatoriamente, a cantar o Hino Nacional, da Bandeira; o Dia da Pátria era uma verdadeira festa, quando todos os pais cambiavam os filhos para assistir aos desfiles.

O casamento era uma instituição rigorosamente séria. As moças primavam em manter seus recatos e guardar sua virgindade para o respeitado marido. Após a noite de núpcias, os pais zelosos buscavam a prova da virgindade, esta realmente absurda. Só namoravam sob as vistas de uma "vela" ou "estrela", como se costumava classificar a acompanhante; os noivos tinham hora marcada para noivar e nenhum rapaz chegava em casa fora dos horários estabelecidos pelos pais. Os ladrões mais afoitos eram os de galinha. Enfim, apesar de alguns exageros, gozávamos de uma sociedade feliz e sadia, livre de drogas, assaltos, estupros raríssimos, roubos com morte, igualmente, éramos livres dos "serial killer" ao estilo da moda americana, e outras aberrações da sociedade atual.

A educação era basicamente a tradicional européia e o idioma predominante era o francês. Dizem hoje, os jovens inconseqüentes : “Velho só fala do passado porque não tem futuro.” Estão enganados: Os idosos gozaram do futuro e estão gozando do passado. Os jovens de hoje devem ter cuidado porque com drogas e violência, eles têm o futuro está ameaçado.

Iran Di Valencia
Enviado por Iran Di Valencia em 01/07/2007
Reeditado em 01/07/2007
Código do texto: T547738