Comprometimento

Não me cobrem comprometimento, é o que menos posso lhes oferecer no momento, cobre-me o que quer que seja, seja favores aos que tenho grande consideração, dinheiro aos que ainda tenho débitos para saldar, menos comprometimento para o que tenho dado sangue, suor e lágrimas. Vi-me livre das correntes que prendem a isso, me vi livre, com as portas abertas para poder levantar voo e pairar um pouco, sobre esse céu de poucas nuvens, uma verdadeira imensidão de azul sem fim.

Mas, a que custo, eu posso me afirmar disso? Nunca fui longe o suficiente, para poder pensar que sei algo sobre imensidão, pelos céus, sempre me senti engaiolado, preso, acorrentado, da forma mais passiva o possível, o tipo de prisão, que faz você achar que está bem onde está e que o simples cogitar de deixar esse espaço, te faz perder a cabeça e ter alucinações.

Minha vida sendo levada aos poucos, era como uma sauna, onde minha vitalidade escorria meu corpo, junto ao meu suor, proveniente desse ar pesado e abafado, que no começo, até parecia um tanto agradável, hoje minhas mão tremem, não se trata de nenhuma patologia, nada, pressão baixa, nada de nada, é apenas o cansaço de se manter firme, se for relevar a tremedeira dela, devo imaginar que meu corpo inteiro deve tremer, como se eu estivesse numa febre desgraçada.

Decerto, eu me dediquei a isso, bom ou ruim, eu me entreguei e em casos muito específicos e isolados, me fio dado um pequeno reconhecimento, em minha opinião, menor do que os que já foram feitas para companheiros de labuta, do mesmo tipo de labuta, que eu enfrento constantemente, eu nunca levei isso comigo, afinal, eu não fazia nem questão desse reconhecimento, imaginar fazer essa pompa toda; desnecessário no meu ponto de vista.

Resolveram então, me dar um pouco mais de corda, para eu poder aumentar as minhas passadas mundo á fora, respirar um ar novo, viver coisas novas e quantas coisas, quantas viagens no mesmo lugar pode-se fazer, quando está num ambiente inteiramente novo e atraente? Aprendi as desfrutar os verdadeiros prazeres da chuva, do vento, do sol fervente, do frio agudo; de uma chuva gostosa em um belo dia de sol, refrescando e lavando a alma por completo, como foi bom. Sem falar da companhia inigualável de uma musa, que acabou por agarrar meu coração, com uma firmeza e ternura que deixou ele manso e quieto, somente para ela, porém, isso é outro caso.

Ah, como a vida foi boa nesse curto período, me desvencilhei de todos os problemas que afligiam minha mente e de forma tão rápida e tão natural, como que me sumiram as preocupações, elas me retornaram ao fim desse período, que dor, ai de mim, me senti pesado novamente, como nunca antes havia me sentido antes, sentia um ar pesado chegando ao longe... O dia do meu retorno, somente me confirmou esses presságios anteriores e cá eu estava, de pé, as mãos voltaram a tremer e meu vigor físico e mental, me eram sugados ferozmente, como se fosse um bebê recém-nascido faminto, quando seus pequenos lábios tocarem no seio da mão, para ele se alimentar desesperadamente, de fato, eu me via como uma ama, que por determinação miserável do destino, estava seca de tudo, mas ainda me drenavam algo, que nem eu mais sabia.

Agora, estou aqui, sentado a sua fronte, pedindo, que não me cobre comprometimento, estou andando, não me fale como você quer que eu ande, estou falando e não quero que me diga, como quer, que eu me expresse a partir da minha fala, dos meus gestos, do meu olhar, nada referente a minha maneira de ser e de agir, não pretendo me demorar por aqui, não me sinto mais com o pique de antes para isso, eu somente vou me sentar e esperar pela hora da minha partida, pois esta se aproxima, lentamente, parece que já sabe que eu sei esperar, com paciência, tendo paciência e por isso, também peço que tenham paciência comigo, e pelos deuses, não me cobrem comprometimento.

Henrique Sanvas
Enviado por Henrique Sanvas em 14/12/2015
Reeditado em 22/09/2020
Código do texto: T5480063
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