A caolha e o perneta

A caolha tinha o perneta e o perneta a ela tinha. (latinha que nunca é igual à outra no lixão). A felicidade era tanta que não foram receber o prêmio da loteria. Um tinha o que faltava no outro. E sabiam que o dinheiro não podia completar isso. Dava pra viver com o que tinham, que já julgavam muito. Deixa o prêmio pra lá. Um dia a gente pensa a quem vai doar.

Mas é moda – a felicidade de um sempre incomoda. Então surgiu uma loura puríssima pro perneta e um moreno sarado pra caolha. Os dois não necessariamente pensando na grana. Queriam era acabar com aquela liga que tinham o perneta e a caolha, aquele negócio de que um tinha o que no outro faltava. Isso os incomodava.

A caolha nada fez para impedir a aproximação da loura. O mesmo fez o perneta em relação ao moreno sarado. Que ficou espantado com o número de mendigos, não raramente bêbados, que assistiam às conferências do perneta, a caolha por trás organizando tudo. Não demorou muito, percebendo infundados seus esforços, a loura foi se aproximando do moreno e ambos notaram que essa aproximação ficava mais intensa quando integravam a plateia que assistia comovida às conferências do perneta no lixão de Caxias. Que ninguém queria perder.

Quando a movimentação no lixão passou a interessar às cadeias de televisão, a loura e o moreno tornaram-se os leões-de-chácara dos eventos, impedindo que eles viessem a ser divulgados.

E o Coconut Groove em Miami ou o Mercado Modelo em Salvador nunca vieram a saber o que acontecia no lixão de Caxias. Embora os adolescentes da cidade continuassem a tudo fazer para não servir ao exército.

Maricá, 12/12/2015

Aluizio Rezende
Enviado por Aluizio Rezende em 18/12/2015
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