Autor X cachorro

Um ser humano portador da doença do alcoolismo crônico compulsivo desiludido com a vida e com a família, pois para ele nada mais fazia sentido, tudo estava perdido. Não conseguia mais trabalhar, debilitado, enfraquecido, sem horizontes, pega uma carona para a megalópole São Paulo.

Ele havia deduzido que lá daria um jeito em sua vida. Libório gostou da cidade, pois alcançou a Rua Vinte e Cinco de Março. Comida boa, mas achou melhor a liberdade de morar na rua. No começo arrumou até uma dama, boa companheira, mas devido sua bebedeira exagerada perdeu sua namorada e do começo do ano até as proximidades do natal bebeu todas, fazendo bicos, mas a festa acabou e ele adoeceu. O que ele não sabia é que morador de rua doente é confundido com bêbados largados.

Na mesma época da chegada de Libório a São Paulo, Sansão um cachorro grande, forte e preto cai de um caminhão de mudanças ali na Vila Maria (São Paulo). Desesperado começa a correr em todas as direções até que ganha a Vinte e Cinco de Março. Devido Sansão gostar demais de seus donos ele começa aos poucos a entristecer e a rejeitar a abundância de comida existente ali.

Debilitado, enfraquecido e cambaleante começou a ser chutado e enxotado em todos os cantos que se encostava. Cada vez mais triste perdeu a vontade de viver e de lutar, até que Sansão encontrou com Libório. Naquele momento renasce nele a vontade de “lutar” novamente, pois gostou muito do cheiro de Libório e percebeu que ele era um homem bom e amigo e começou a assediá-lo timidamente.

Libório no começo o enxotava e Sansão de plantão permanente sempre ali por perto e de olho no seu novo eleito companheiro, foi ai que Libório cedeu ao assédio de Sansão, pois há meses não tinha com quem conversar.

Devido estar muito doente Sansão tenta de todas as maneiras reanimar Libório para juntos darem um passeio pela cidade, começariam tudo de novo. O cachorro deitado à gente podia contar os ossos de suas costelas, sua respiração ofegante misturava-se com os sons tropicantes do ronco fraco daquele homem com aqueles cabelos todos embolados que davam um belo acabamento em suas roupas sujas e rasgadas.

O cachorro nauseante e sem forças lambe o rosto e a boca do amigo que já se encontra com a mente totalmente entorpecida já quase em coma, ainda consegue balançar o rabo mostrando alegria e contentamento. Levantando dá um sinal que precisamos caminhar.

Enquanto isso em Vila Maria os preparativos natalinos corriam solto e animadamente com a nova vida que a megalópole lhes oferecera àquela família. Enquanto isso as crianças choravam de saudades de Sansão. Na cidade daquele homem devido desconhecerem a doença do alcoolismo crônico compulsivo preparavam todos felizes a aproximação do natal dizendo: aquele porco espinho nunca viveu, nem deixava a gente viver, ele nunca gostou de nós.

Naquela tarde Sansão insiste tanto lambendo-lhe o rosto e a boca mesmo cambaleando consegue balançar o rabo como se estivesse em festa, aprovando o esforço daquele homem todo torto que mal consegue se levantar apoiando num velho cabo de vassoura, eles dão os primeiros passos como se fossem crianças.

Mal conseguem alcançar um toldo de uma loja e os dois caem de fraqueza e fome. Enxotados e chutados são obrigados a se levantarem e se arrastando sem destino algum antes de chegarem à esquina mais próxima são surpreendidos por um temporal, uma chuva grossa e escura que se prolongou pela noite adentro.

Os dois caem novamente de fraqueza já sem forças para se arrastarem e aquele homem morrendo de frio procurando abrigo e aconchego se abraça fortemente ao amigo cachorro e este quase já sem vida lhe oferece o último afago. No outro dia os dois estão mortos e abraçados atrapalhando a passagem dos pedestres.

A internet divulga o acontecido, a mídia vende milhões de jornais. Homem e cachorro, ambos irreconhecíveis. Libório o indigente sem documentos transformou-se em João felpudo. Sansão seu preto brilhante se transformou num cinza irregular, as orelhas avantajadas caíram sobre os olhos. Orelhas agora cobertas de feridas.

Ambas as famílias veem a foto nos jornais e na internet. Ambas exclamam no mesmo tom: Que trágico fim desses dois. (Um autor cachorro) ou (um cachorro autor).