Crônica reflexiva: Saudades dos tempos em que as pessoas pediam "licença", "obrigado", "desculpa" e etc

Sou nascido em 1974 e hoje tenho os meus 41 anos.

A minha vida nunca foi uma das mais fáceis, pois, os meus pais biológicos não puderam me criar. Deus em sua infinita misericórdia proveu outros pais, maravilhosos, magníficos no ato de amar, pobres materialmente, mas ricos de qualidades e virtudes.

Nesse meio de amor e respeito eu fui criado a aprendi a respeitar as pessoas. Meus pais foram os meus principais exemplos, pois, não me recordo de nenhuma cena em que eles desrespeitassem alguém.

Não sou da época do "bênção pai", mas via outros mais velhos procederem dessa forma. No começo não entendia o que aquilo significava, hoje entendo a importância dessa súplica, porque toda a bênção do pai ou da mãe, é de um valor imensurável, não há prata ou ouro que pague.

Lembro-me também que quando os mais velhos falavam, os mais novos paravam e ouviam com calma. Eu mesmo, quando os mais velhos falavam, eu pouco respondia, mas esperava o momento da fala.

Convivi porém com outras pessoas que eram estopim curto e que demonstravam a falta de respeito, No entanto, o que me parecia era que existiam poucas pessoas nessa situação. Atualmente isso não se aplica.

Na escola, eu e uma grande parte dos meus amigos e demais alunos, respeitávamos demais os nossos professores, diretores e funcionários. Lembro-me que em uma ocasião que durante a aula de Ciências, do Prof.Pedro Rocha, na antiga E.E.P.G. Prof .João Baptista da Rocha Corrêa- na Vila São José, na minha querida Piraju-SP, eu me levantei durante a explicação da matéria e de forma silenciosa fui até um quadro de avisos que havia dentro da sala de aula. Queria ler um aviso que ali estava, somente isso.

O Prof. Pedro Rocha não pensou duas vezes; parou a explicação e repreendeu-me: " O que o senhor quer, hein mocinho? Não vê que está me atrapalhando? "- respondi-lhe: "Não professor!! Só queria ver o aviso!". " Vá se sentar imediatamente!"

Tentei justificar a minha falta, mas ele enrudesceu e me fez entender que havia cometido um erro. Esse constrangimento me fez entender que quando os mais velhos falam, os mais novos não devem atrapalhar.

Em casa, não precisa os meus pais falarem muito, eu os entendia pelos seus olhares. Quando falavam alguma coisa, eu já podia me preparar que além das palavras, viriam a cintadas e as chineladas.

Minha saudosa mãe Branca não me permitia jogar bola e me agasalhava demais. Tenho lembranças e fotos daquela época que eu andava encapotado, cheio de roupas e gorros. Não precisava estar frio para ela me vestir assim.

Mamãe rasgava com facas e tesouras as minhas bolas, nisso explica-se a minha inimizade com elas. Já que não pude me entender com as bolas, entendi-me com os livros. Hoje, tendo seguido os conselhos de mamãe, formei-me professor.

Tantos acontecimentos nunca me fizeram ser mal educado ou desrespeitoso com ninguém, foi o contrário, muitos já foram e ainda são mal educados comigo. Hoje mesmo, um grupo de alunos passou na porta da escola em que trabalho e me insultou. Deus me deu calma e a minha educação mandou-me calar.

Olho hoje a geração de pessoas com muita tristeza, pois, não possuem limites e acham legal faltarem com respeito. Vejo e entendo que vivemos uma profunda banalização de valores, é normal ser mal educado e, nada pega não.

Em muitas aulas conversei com os alunos a respeito da necessidade do saber respeitar para ser respeitado, muitos indiferentes, viram as costas, outros escutam mas não entendem o que isso quer dizer. Tudo isso, causa angústia a mim e aos demais colegas professores.

Numa nação cujo lema é "Pátria Educadora", os professores são tratados com total desprezo e indiferença. São alunos e outras pessoas da comunidade escolar que fazem o sofrimento nosso de cada dia. Não se busca saber o porquê do filho/aluno ter tirado nota vermelha, pois, culpabilizar o professor e o sistema de ensino é mais fácil, dá menos trabalho.

Estamos finalizando 2015 sem muito o que comemorar. Foi um ano difícil em todos os sentidos. Um país que chora um 7 x 1 em jogo de futebol, não se mobiliza para evitar o choro e sofrimentos de alunos e professores em salas de aula em todo o país. Paga mal os seus professores, superlota salas a de aula, banaliza-se a falta de respeito e a indisciplina.

É notório que muitos pais estão correndo atrás da sua sobrevivência e de seus filhos. No entanto, esses filhos cujos pais nem sempre são mais abastados, desprezam a escola, os professores e a instrução ministrada.

Estão cada vez mais cativos da tecnologia que está transformando-os em seres alienados. Em salas de aula de todo o nosso Brasil, o professor tem se desgastado não para ensinar o que sabe, mas para mediar situações de agressões física-verbais entre alunos com alunos e professores.

Em todo o país, fala-se muito da formação do professor, o salário e outros benefícios, o sindicato que resolva depois, realizando manifestações e até mesmo, em justa causa, atacando o governo para tentar garantir o que é direito do professor, profissional da educação.

Vivemos num país cujos heróis são pessoas que pouco fizeram para merecer. A mídia os exalta publicamente e incentiva padrões distorcidos de vida. Nossos jovens e crianças estão sofrendo ataques diretos e a suas personalidades estão sendo afetadas.

Temos que resgatar os valores principais para uma melhor convivência. as palavras ou expressões: com licença, posso ir ao banheiro?, obrigado, etc. Hoje muitos saem dos recintos sem pedir licença e ignoram regras e horários. Vejo um futuro sombrio, pessoas geladas e altamente agressivas.

Sei que foram anos de desconstrução, mas ainda temos algum tempo para edificar novas obras. Tenho saudades da educação e respeito dos antigos, não sendo eu, tão velho assim.

Hoje com a tal democracia e liberdade de expressão, as pessoas têm confundido usar o direito e exercer a sua educação,Sonho com o dia em que entrarei em sala de aula e encontrarei pessoas mais calmas e menos estressadas ,devido à enorme exposição à tecnologia.

Repasso adiante essa ideia e convido aos demais educadores para isso. Uma andorinha sozinha não pode e nunca fará verão.

SérgioLumell
Enviado por SérgioLumell em 27/12/2015
Código do texto: T5492009
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