Amor Telúrico

Adoro uma frase de Francisco Julião contida, salvo engano, no seu livro "Até Quuarta Isabela" escrito num cárcere da ditadura e dedicado à filha que ia nascer (ou recém-nascida). Escreveu ela num trecho do livro: "Amor é oferta permanente e renúncia de todos os dias. É mais, porque é dádiva e humildade". Um arraso.

Quando recordo essa frase - e isso ocorre amiúde -, eu não associo ao amor romântico ou filial, nem maternal, nem fraternal, mas ao amor telúrico, o amor pela nossa terra.Nessa frase o amor está sintetizado e definido de modo claro, objetivo e lapidar. Seria bom que as pessoas refletissem sobre essa frase.

Nela estão corretíssimos os pressupostos do amor: oferta permanente, renúncia e dádiva. E com o complemento da humildade. Este último é fundamental porque não existe amor sem humildade. O amor de verdade não é aquele do fogoso que bate no peito, se rasga, se esgana; não é o amor fingido daqueles que agem como viúva que enganava o marido e que no velório dele dá uma de desesperada e de santa. O verdadeiro amor a terra é, não raro, silencioso, permanente,contidoe humilde.Por isso é eterno. O amor ruidoso, excitado, frenético, fogoso e escandaloso não é amor, é demagogia.

Longe de mim querer patrulhar o amor dos outros por sua terra. Acho isso um absurdo. Ninguém é capaz de ensinar ninguém a amar sua terra. OP amor é umsentimentoque o sujeito tem ou não tem. E os piores são aqueles que nãotêm amormais fantasiam,apenas para auferir lucros ou aparecer. Amor não é uma mercadoria que pode comprar num supermercado.

Para mim quem mais contribuiu para desestimular o amor telúrico das pessoas por sua terra foi o advento da globalização dos costumes. Ele fez com que o amor a terra fosse considerado algo descartável, velharia inútil, sucata, vuco-vuco, manioa demodê. Não estou exagerando, consultem as pessoas elas vão desconversar, só querem saber de festa da moda.

Felizmente, mesmo com a esclada da padronização geral doscostuimes, ainda ahá uma mninoria que resiste a esse crime de lesa-pátria que é o abanodono da nossa memória, folclore, usos e costumes, enfim,da nossa história. Essa resistência é uma prova de amor. É uma esperança que nos faz acreditar que nem tudo está perdido. Aleluia. Inté.

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 11/01/2016
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