A NOA!

Observando hoje o rio Piranga, que é meu vizinho do fundo do quintal, verifico o quanto ele aumentou nos últimos três dias. Talvez uns três metros. Se continuar chovendo, poderá sair da “caixa”, inundando os nossos quintais.

A chuvinha intermitente dos últimos três dias veio renovar a esperança da volta dos mananciais, desaparecidos com o longo período de estiagem.

Me vêm à lembrança o meu tempo de criança,quando ficávamos sobre a antiga ponte de madeira vendo o pessoal “pescando” as madeiras que desciam na enchente Eles usavam uma tiriba, que era uma vara de madeira ou bambu resistente, furada na extremidade, e neste furo era amarrada uma corda em forma de laço. Para quem mora ou morou na roça, é igual à usada para segurar a vaca de bezerro novo.

O fato é que o pessoal conseguia pegar vários galhos e outros paus, que desciam o rio e que seriam utilizados para a lenha de seus fogões. Alguns, no fim do dia, conseguiam juntar até um carro de lenha (o carro aqui é o de boi) que equivalia mais ou menos 2m³ de lenha.

Como existiam várias canoas na região, de vez em quando algumas se soltavam pela força das correntezas, e desciam rio abaixo. Era o que fazia a festa do pessoal postado na ponte, principalmente as crianças. Quando apontava uma canoa lá pelos lados da pedra do rebojo alguém já gritava:- A NOA! (corruptela de canoa). Era a senha para o alvoroço geral. Quem iria laçá-la? Todos os laçadores a postos! O mais esperto conseguia a proeza, E era aquela festa.

Às vezes soava um alarme falso com alguém gritando “ a noa!” Todos corriam e o alarmista como se diz agora, rachava o bico...

Até hoje alguns ainda se lembram do famoso grito. E quando estão em uma festa ou em um ambiente muito alegre ainda entoam um sonoro:- A NOA!

Murilo Vidigal Carneiro

Calambau , janeiro/2016

murilo de calambau
Enviado por murilo de calambau em 19/01/2016
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