O poeta José da Matta
 
Luiz Carlos Pais
 
Entre os poetas da cidade de São Sebastião do Paraíso, Minas Gerais, do início do século XX estava José da Matta, autor de belíssimos e inspirados sonetos, cuja maestria deixou seu nome inscrito na história da literatura local. Um dos seus sonetos, intitulado O Livro, foi publicado em março de 1907, num periódico de circulação nacional, impresso do Rio de Janeiro. [O Malho, Rio de Janeiro, 16 de Março de 1907, p. 44] Essa publicação confirma o registro feito pelo escritor José de Souza Soares, no seu livro “São Sebastião do Paraíso e sua História”, obra essa publicada em 1944, quanto ao fato do referido poeta estar entre os primeiros escritores da referida cidade mineira a se projetar no universo literário. Entre esses poetas pioneiros que iniciaram na arte da palavra ainda na primeira metade do século XX estavam, além de José da Matta, Noraldino Lima, Antônio Correa Pinto, Alaor Ribeiro, Antonio Roque Martins, Ary de Lima, entre outros. José Paes, que começou a publicar seus poemas na imprensa local, ainda no início da década de 1940, tinha grande admiração pelo texto poético de José da Matta. Assim, a transcrição abaixo presta uma homenagem à memória do saudoso poeta, pelo belo soneto publicado há mais de um século.
 
O Livro

                                 José da Matta

É o livro o farol de onde nasce divina,
A refulgente luz, embriagante e casta,
Que as trevas espancando, heróica, adamantina,
Peretra no universo e a ignorância afasta.
 
O livro é o astro rei que luz alabastrina
Esparge pelo mundo e a escuridão devasta;
O livro tem fulgor qual vésper matutina
Que brilha na ampliação do céu garbosa e vasta.
 
Apóstolo do bem, guerreiro de valor,
Não teme, na batalha, a espada mais cortante,
Pois, na luta que trava é sempre vencedor.
 
Mensageiro de luz, que a humanidade adora,
O livro encerra, em si, tudo que é deslumbrante,
O livro tem primor como o nascer da aurora!
 
 
Ainda de autoria de José da Matta, transcrevemos abaixo outro soneto preservado na obra histórica do historiador e professor Luiz Ferreira Calafiori e que também foi publicado, na primeira década do século XX, na imprensa nacional.
 
Em véspera
 
                                   José da Matta
 
Eu vou partir, eu vou partir em breve,
Talvez que procurando minha vida,
Como a falena débil que, ferida,
A bem alto voar ainda se atreve.
 
Que no infortúnio não me tolha a neve,
Deixando a alma do pobre combalida
Porque se sente fraca e esmorecida
Pras lutas que vencer um dia deve.
 
Deixo tudo: família, meus amores,
Amigos e este céu de Paraíso
Tão lindo e tão soberbo em suas cores.
 
No peito, eu levo a dor da soledade,
Nos lábios, de tristeza, levo um riso
E n’alma, o fero espinho da saudade!