ÍNDIA
A Índia está no exterior do interior de mim...
Por lá o sorriso corre solto e o olhar é
doce, mesmo no amargor da miséria...
Ri e chorei muito. Admirei a arte esculpida
nos templos contando as lindas histórias indianas.
Neles, vi crianças com seus professores, inclusive
em Khajuraho, sede de inspiração ao Kama Sutra:
explícito ensino ao amor de Shiva, divino-humano.
Vesti um sari, experimentei doces e pimentas.
Poupei os camelos e os elefantes - não é natural
neles carregar pessoas em férias prá lá e prá cá...
Mergulhei no Ganges e me entreguei...
Morria e nascia entre os crepúsculos
dos sóis laranjas - gradientes e hipinotizantes!
Enquanto tomava um café vi uma vaca comer um saco
plástico pastando no asfalto imundo – ah! Tão sagrada,
tão abandonada...
"Buzine por favor" - informa o trânsito caótico que
misteriosamente não para, não sinaliza, não silencia.
Todos os dias eu dizia: não vou sentir saudades das
buzinas da Índia! Ah saudades tantas! A Índia se faz
ouvir. Lá, buzina é o caminho, a verdade e é vida!
Apaixonada pelas cores e estampas as rupias escorregavam
entre os dedos e todas se faziam tecidos, sedas e música na
"panelinha de bronze" budista. Levantei as cinco da matina e
meditei com os monges e depois fiz aula de yoga.
Ops! Vi a aula! Impossível acompanhar aquela linda mulher
movimentando divina e lentamente o seu corpo flexível, obediente
e indolente em vôo e envergadura.
Nesta viagem despretensiosa desenhou-se uma cartografia
ainda a ser decifrada, tal qual os enigmas e as magias daquelas
terras e mares... daqueles amores e tantras... homens e budas.
Na bagagem - além dos paninhos - vesti-me de coragem
"do exterior para o interior de mim" - e nessa redonda vida
sigo imaginando um mundo melhor, tal qual, Lenon, Armstrong
e Gaston Bachelard, em que "a dialética do interior e do exterior
desfixa" - em mim a menina-mulher - sem posição definida
num domínio de língua sim, mas não de imaginação...
porque conforme observou Bachelard, e creio que você concorda
com ele: "o homem é o ser entreaberto..." E, em uma bricolagem:
- o homem é o séu entreaberto...