Entre cigarras e formigas

 
Um almoço de domingo no sítio, sempre é algo bom, renovador e natural. Ainda mais, quando estamos em janeiro, um mês muito quente. Família reunida, crianças brincando ao ar livre, idosos em suas conversas em que "no meu tempo", e assim se  passa um dia. Como o almoço ao ar livre tem suas particularidades, não podíamos passar sem provar um pouquinho dos inusitados imprevistos da mãe natureza.
Bom, nos afazeres de cozinhar e se organizar já é por si só, um ato de heroico, pois para mim, que não gosto desta tarefa, a cozinha se torna um verdadeiro caldeirão, com tudo borbulhando e eu lá junto aos ingredientes, cozinhando naquele cômodo quente e barulhento. Logo ouço um dos personagens adentrar a cozinha, gritando: - Venha ver, venha ver, as formigas estão na varanda, no sofá do vovô. Quando me adiantei para ver do que se tratava, lá estavam as famigeradas e imperturbáveis formiguinhas, em centenas, fazendo uma trilha,eram as conhecidas formigas-correição.Elas simplesmente invadiram  a varanda, bem na hora do almoço.
No corre daqui e dali, todos querendo se livrar das minúsculas trabalhadoras, alguém lembrou do detalhe: - Põe cinza, que elas mudam o itinerário. Dito e feito, como se tem fogão à lenha, cinza não era o problema, lá sujamos toda a varanda com cinza. De fato elas mudaram de rumo, mas a varanda ficou imunda.Apenas um detalhe.

Alguns se propuseram a ajudar a arrumar a mesa, um calor intenso; inicia-se o  almoço, e eis que somos surpreendidos por um som alto  e perturbador próximo à mesa. Uma cigarra se embrenhou  na paineira  ali existente, e seu som ficou disputando lugar com nossas conversas.
Assim seguiu, um reclama daqui, outro olha dali, um diz que vai tentar espantar a cigarra, mas esta continua, em alto e bom som, gritanto e assim acirrando as demais nos arredores. Mesmo quando alguém acionou a buzina do carro, para espantar a cigarra,esta se mostrou imbatível e nossas conversas não era páreo para seu som agudo e alto. Acho que as pessoas que estão acostumadas com barulhos urbanos, não se irritam com carros, buzinhas,sirenes e afins, mas música de um inseto, deixou alguns agitados. Deve ser o hábito.

Depois do dito almoço, resta a limpeza e recolhimento dos utensílios, parte desagradável, mas tem que ser feita. Após tudo limpo, fomos nos sentar e conversar. A cigarra ainda entoava sua música estridente, tentando atrair suas parceiras para à cópula. As formigas desapareceram, a cinza as fez perder o rumo, são guiadas pelos feromônios, e agora estamos livres dessas. Na fábula de Esopo a formiga trabalha intensamente enquanto a cigarra curte sua vida com música; e agora observando , verificamos que de fato enquanto a cigarra com seu canto procura o acasalamento,as formigas continuam intrépidas por entre os arbustos em sua incessante busca por comida. Nós é que estamos atrapalhando o processo natural, somos urbanos e intrometidos.








 
Lia Fátima
Enviado por Lia Fátima em 01/02/2016
Reeditado em 15/10/2018
Código do texto: T5529873
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