Crônicas = Reminiscências Bem Humoradas.

                                            Galinhas e Mais Galinhas.

Meu pai foi designado para trabalhar em uma cidade do interior de Minas. Bem, no interior é modo de dizer. Era mais para interior do interior do íntimo do âmago de Minas Gerais. Um quinto de um cocô de mosquito em cima do mapa, se tanto.
Depois de algum tempo minha mãe resolveu visitá-lo com a família, o que aumentou a população da cidade em alta porcentagem por algum tempo, e lá chegamos nós de mala e cuia.
Que cidade dinâmica! Não eram nem dez horas da manhã e todo mundo pulava da cama, da rede, do banco da praça, e corria em direção aos bares, que, por sinal, eram mais ou menos a metade das construções da avenida Principal, que tinha esse nome apesar de ser a única.
Às vezes, à tarde, eu ouvia um ronco suave que me parecia uma aeronave qualquer ao longe e me decepcionava. Era só um besouro imenso sobrevoando as proximidades do hotel “Pimenta do Reino” ( Os hotéis que me perdoem...).
Claro que o nome do hotel era “Grande Hotel de U...”, mas como a pimenta-do-reino ali não podia faltar nem na sobremesa, demos-lhe o apelido e colou.
Bem, onde quero chegar é no seguinte caso: um dia, curtindo a pasmaceira da tarde, quando todos descansavam do ócio do dia, fui até a casa de uns colegas de banco de meu pai, amigos meus, e encontrei todos roncando alto. Estava a fim de um papo, de alguma companhia, de alguma distração, e aquela cambada dormindo depois do almoço.
Não fiz cerimônia. Entrei, atravessei a casa, sentei-me em um murinho que dava para o quintal e vi ali um saco enorme de milho. E olhando, cobiçosas, o saco de milho, algumas belas galinhas brancas.
Peguei um punhadinho de milho e joguei pra elas. Um minuto depois chegaram mais galinhas. Joguei mais milho. Quanto mais milho eu jogava, mais galinhas apareciam.
Depois de muitas jogadas e de muitas galinhas reunidas, comecei a achar que a notícia se espalhara por todo o galinhal mineiro: “Tem um louco jogando milho pela janela lá em U...”. Vamos lá!!”
Gente, sem exagero mesmo: um bom pedaço do tal quintal ficou coalhado de galinhas e eu jogando milho, jogando milho, e o silêncio me incomodando. Elas bicando e nem ao menos o barulho das bicadas eu ouvia por ser muito fofa a terra.
Quando aquele mundaréu de galinhas estava “entertido” com a comilança, ou, no caso, comilhança, eu soltei um berro violento e vi uma das cenas mais engraçadas da minha vida: era pena pra todo lado, galinha rodando, galinha voando, galinha trombando no ar, galinha caindo dura, galinha pulando muro acima, galinha caída no chão dura de susto, sei lá, galinha dando várias cambalhotas antes de cair no chão e sair correndo feito doida.
Meu berro acordou a cambada de bancários e todos correram pra ver o que havia acontecido, mas eu ria tanto que havia caído no chão da varanda e não conseguia falar. E a turma pensando que eu estava chorando. Quanto mais perguntas me faziam mais eu ria.
Quando consegui parar de rir e consegui contar, mais ou menos, o que havia acontecido, ninguém achou muita graça e fiquei com fama de “filho abestado do seu Brandi”. O que eu ri naquele dia, o dia todo,valeu qualquer má fama. Até hoje eu rio quando me lembro da galinhagem das galinhas. Devo ser meio abestado mesmo...
Fernando Brandi
Enviado por Fernando Brandi em 05/07/2007
Reeditado em 05/07/2007
Código do texto: T553232
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