PROFESSOR: FORMADORES UTÓPICOS

Quando eu era criança me imaginava sendo professora; achava linda essa profissão. Juntava algumas amigas e ficava brincando de “escolinha”. Para mim, o professor era aquela pessoa que sabia de tudo, era o ser mais sapiente do mundo. Passei tempos alimentando essa imagem dentro de mim. Quando vinham me perguntar que profissão eu gostaria de seguir quando “crescesse”, eu falava sempre a mesma coisa: “eu quero ser professora”. Mas algumas pessoas me olhavam com um olhar de desdém, e eu não sabia o motivo, achava que seria “muita areia para meu caminhão”.

Os anos se passavam e minha ideia permanecia. Queria seguir na área docente. As perguntas continuaram, mas a resposta era sempre a mesma, o olhar o mesmo, algum apoio indiferente e opiniões contrárias. Uns relatavam que ser professor era coisa para doido, faziam trocadilhos com essa palavra, diziam que não era professor e sim sofressor, mesmo assim não foi o suficiente para eliminar essa decisão dentro de mim.

Descobri que os professores não eram os mais inteligentes do mundo e que não era muita areia para meu o caminhão em seguir essa carreira, pelo contrário, as críticas, os menosprezos, e as questões salariais apontavam dessemelhante. Mesmo assim fiz o vestibular para Pedagogia, infelizmente não passei. Eu queria ser professora, mas não sabia de que. Percebi que tinha afinidade e prazer por Português (um antigo professor despertou esse desejo em mim), então, no ano seguinte, estava eu prestando vestibular para Letras- Habilitação em Língua Portuguesa. Para minha alegria fui aprovada. Eu queria externar minha alegria, principalmente, para os docentes que contribuíram no meu processo de formação escolar. No entanto, quando dei a prazível notícia que iria me incluir no seu mesmo campo de trabalho, fui atingida com a desprezível resposta: “logo professor... boa sorte, além de morrer de fome, endoidará”. Fiquei boquiaberta com essas palavras. A minha felicidade transformou-se em dúvida, a minha dúvida em preocupação; porém, mesmo assim fui adiante.

Atualmente, percebo que há um grande déficit na educação, não por não sermos valorizados o quanto merecemos, mas principalmente porque o próprio docente não se deixa valorizar, estão auto se destruindo quanto profissional e, de quebra, passam uma imagem negativa aos alunos, além de não instruírem como necessário. “O maior pecado capital que os educadores podem cometer é destruir a esperança e os sonhos dos jovens”. (CURY 2003, P. 100). Como poderá haver sonhos entre os jovens se as pessoas em quem eles confiam, se espelham, perderam a esperança de sonhar, o prazer de ensinar e o amor de formar cidadãos.

Um professor não é apenas um doador de conteúdo, mas também um doador de sonhos e de amor. Se não temos sonhos para sonharmos nem amor para darmos, o que estaremos fazendo em uma sala de aula, com jovens em busca de seus sonhos e necessitados de amor?

Vivemos em um mundo capitalista em que as pessoas visam primeiramente o dinheiro. Os pais não deixam que os filhos tomem suas próprias decisões; manipulam a escolherem os melhores cursos, visando sempre os lucros futuros. Em meu ponto de vista, se os pais continuarem instigando seus filhos optarem pelos cursos em que eles almejam, a probabilidade de formar cidadãos frustrados, sem amor no que fazem e sem empatia para com os outros, será crescente. E, assim, consecutivamente haverá menos profissionais formados na área da educação, já que não é um curso de sucesso para o mundo capitalista.

Mesmo com o insucesso, há ainda uma crescente rejeição dos jovens nessa área por, principalmente, desvalorização desses profissionais que têm uma árdua tarefa de correção de provas, preparação de aulas, de projetos, elaboração de atividades e outros, em que, muitas vezes, passam noites em claro, sofrem abusos de alunos e ou supervisores, e, além de não ganharem o necessário, ainda são surpreendidos com possíveis atrasos no pagamento.

Porém, pensamos, vale apena encarar o desafio? Ser desvalorizado, xingado, desconhecido, perseguido, ameaçado, rejeitado...

Muitos podem até achar que não, mas quando vemos os discentes empolgados nos projetos, tirando dúvidas e participando de cada conteúdo, com boas notas e presença na escola, solidários e empáticos; perdoamos os xingamentos e ameaças, a perseguição (relacionada a trabalho) é favorável, sentimos o reconhecimento e somos acolhidos.

Professores merecem todo o respeito, pois são eles quem lapidam as crianças e os jovens para se tornarem em preciosas joias adultas.

Quem encara o desafio?

“A base de toda a conquista é o professor”.

Berlandia Paiva

REFERENCIA:

CURY, Augusto. Pais Brilhantes, Professores fascinantes. Rio de Janeiro: Sextane, 2003.

Berlandia Paiva
Enviado por Berlandia Paiva em 03/02/2016
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