A roda gira

Recentemente reencontrei alguns colegas de escola em um grupo de mensagens. Gente que não via há quase dez anos. Conforme fui relembrando e conhecendo novamente os colegas, percebi o quanto as pessoas mudam. A Patricinha que eu achava nojenta e antipática aparenta ser uma flor de pessoa, a palhaça da turma está uma mulher séria, o bobão da sala está um rapaz comprometido.

Falar com esse povo me fez dar uma volta no tempo e reencontrar a Tamiris de 13 anos. Eu me achava muito esquisita, quase integralmente deslocada do resto da turma, quase porque tinha três ou quatro gatos pingados a quem eu recorria. Não me interessava pelos assuntos que sempre estavam em pauta, no caso dos meninos, futebol, lutas, filmes de ação e infindáveis piadas de duplo sentido, no caso das meninas, meninos, beijo, namoro, revistas de adolescente e coisas assim.

Com 13 anos eu era fã de Rebelde, Floribella, ainda tinha o sonho de ser uma Chiquitita, e vivia escrevendo e sonhando em viajar para um mundo mágico, ou seja, não era lá muito normal. Conforme o tempo foi passando, eu fui amadurecendo, veio o ensino médio, a faculdade. Não me tornei a pessoa mais sociável e popular do mundo, longe disso, mas cultivei alguns bons amigos que, por incrível que pareça, se identificavam comigo de alguma forma. Passei a me entender, a me conhecer, e percebi como eu era boba em me sentir mal por não me encaixar em nenhum grupo. O tempo passa, as coisas mudam. Já ouviu falar que a vida é uma roda gigante? Quem estava lá embaixo pode chegar no topo, ou vice-versa.

Percebi também nessa conversa que sou uma das únicas que me formei, o que pra mim foi um ciclo natural, não foi da vontade ou foi possível a todos. Mesmo passando por dificuldade de inserção no mercado que escolhi, e das eterna dúvidas e angústias que pairam sobre minha cabeça, creio que me tornei uma jovem senhora de 23, quase 24 anos até bem interessante. Não que aquela Tamiris de dez anos atrás tenha morrido completamente, ela ainda está aqui, um pouco mais desenvolta e ciente do que deve fazer.

Como diria a pensadora Sandy Leah, “sou jovem pra ser velha e velha pra ser jovem”. Talvez esteja escrevendo isso pela proximidade do meu aniversário, a pessoa adulta tá batendo na porta e querendo se apossar de mim, e pior que não posso recusar, ou posso? Mas, olhando para trás, eu gosto da mulher que me tornei hoje, mesmo com todas as minhas esquisitices. Se você está passando por um momento em que se acha o ser mais estranho e deslocado do universo, um segredo, sabe a roda? Ela gira. Pra nossa sorte.

Tamiris Pires
Enviado por Tamiris Pires em 05/02/2016
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