Rádio Difusora Paraisense
 
Luiz Carlos Pais

 
A história da radiodifusão requer um longo capítulo para tratar das especificidades dos desafios próprios das cidades do interior. Muitas vezes, as fontes mais reluzentes deixam transparecer a ilusão de que quase tudo acontece nas grandes cidades. Ledo engano! As táticas de resistência e persistência acontecem num ritmo diferente, mais silencioso e discreto, próprio também da sabedoria mineira. Este artigo trata de um momento especial, no contexto da Segunda Guerra Mundial, quando o arrojado empresário José Soares Amaral (Zezé Amaral), pai do ilustre jornalista Gilberto Amaral, estava à frente do arrojado projeto para consolidar o funcionamento da Rádio Difusora Paraisense ZYA4, em São Sebastião do Paraíso, Minas Gerais.
 
O município cafeeiro ansiava por novos tempos. Além da riqueza conquistada pelo ouro verde, havia uma expectativa crescente de expansão das condições de acesso à educação, cultura e informação. A Rádio Difusora Paraisense estava nos seus primeiros anos de funcionamento. Um dos desafios do arrojado Zezé Amaral consistia em acompanhar aquele momento de expansão e melhoria nas condições de radiodifusão no interior do país. Essa expansão estava ocorrendo nas principais cidades do interior de Minas Gerais, Estado que liderava esse momento de melhoria das condições gerais de comunicação, entretenimento e informação.
 
Para melhor entender, recorremos a uma reportagem publicada na revista Cena Muda, do Rio de Janeiro, em agosto de 1943, na qual o redator confirmava o pioneirismo do interior mineiro em termos de radiodifusão e cita o caso da Rádio Difusora Paraisense que estada dotada, naquele momento, de um excelente transmissor, somente encontrado em grandes cidades do país. As emissoras de rádio estavam passando por um momento importante, no sentido de se consolidarem como mídia de ampla abrangência nacional, duas décadas antes dos primeiros sinais de expansão da televisão no interior do país.
 
Por mais triste que seja a guerra foi um dos fatores que fomentou essa expansão da radiodifusão e de outras tantas tecnologias. A necessidade de se manter informado quanto ao grande conflito e suas consequências ascendeu esse momento especial da história do rádio. Nessa época de incerteza, jovens idealistas paraisenses se reuniam, em certas noites da semana, para ouvir num velho rádio à válvula, as notícias do grande conflito. Nessa época, difundiu-se a ideia de que a emissora de rádio deveria manter em bom funcionamento o seu broadcasting, termo inglês usado para caracterizar o processo transmissão ou difusão de informações. O conceito nasceu no rádio e está presente nas novas mídias digitais da atualidade, quando alguém insere uma imagem numa rede da internet e vários outros receptores recebem a mesma informação e cada um interpreta a mensagem ao seu modo. Ao criar a Rádio ZYA4, nosso conterrâneo estava inserido nesse desafio inovador de sua época.
 
O rádio passou então a ser uma tecnologia diferenciada para emitir uma única mensagem e permitir que a mesma fosse recebida em vários receptores, lembrando que esse estágio de expansão ocorreu quatro décadas após a invenção do processo técnico de radiodifusão. As dificuldades de manutenção da emissora de rádio no interior eram bem maiores. A memória coletiva de Paraíso preservou a imagem de que as antenas da Rádio Difusora Paraisense foram inicialmente instaladas no alto de dois postes de eucalipto, fixados no próprio terreno da residência localizada na Rua Pinto Ribeiro, 1057, esquina com a Rua Alferes Patrício, onde funcionou até 1947.
 
Foi nesse local que se apresentou o cantor Vicente Celestino, um dos mais famosos artistas de sua época. As duas vias públicas ainda não eram nem mesmo calçadas. Uma multidão encantada ouviu o inesquecível espetáculo musical, do lado de fora do pequeno prédio, pelo som que saía de um alto-falante instalado na extremidade de um poste de madeira. Na mesma oportunidade o cantor também se apresentou num circo armado no Largo São José. O evento cultural foi testemunhado por paraisenses que o registraram na memória individual e coletiva da cidade, para o bem da história da querida terra natal.