Várias Carnavalescas

Várias Carnavalescas







A grande vitória do filme "Spotlight", forte concorrente ao Oscar, não está exatamente nos seus atributos cinematográficos, mas na ampla divulgação do conteúdo. Cinema divulga amplamente. Vez ou outra ouvimos falar, de um modo quase longínquo, de que um sacerdote desvirtuado molestou uma criança. Vá atrás.... "Spotlight" mostra que existe um padrão comportamental detectado nos anos 60 (nos EUA, e aqui?), analisado pela psiquiatria e o caso reportado pelo jornal Boston Globe em 2003 remete a 87 sacerdotes predadores, somente na cidade de Boston, no referido ano. Todos apadrinhados pela arquidiocese e com tíquete opcional para o Vaticano. Cem por cento de suas vítimas eram crianças carentes, uma delas conta que para uma criança pobre, vivendo num pardieiro, a presença de um padre era um alívio, um suporte de vulto, até que....Então era tarde demais.

"Spotlight" seria, a meu ver, vitória de toda a ala da sociedade que aspira um mundo melhor, ciente de que não haverá melhora se não enxergarmos, aceitarmos e mudarmos para patamar mais elevado e higienizado. Isso inclui nós, brasileiros, ou será que a pedofilia de batina não ocorre no BR? Vida de avestruz não terá lugar nos tempos que chegam.

Falando em cinema, impossível entender o carnaval do Di Caprio (com o Papa?) e o diretor Iñárritu sobre a estupidez que beira a demência, tamanha a previsibildade e falta de conteúdo do festejado(?) "O Regresso". Ontem passou no cabo o western com Kirk Douglas, "Duelo de Titãs", mesma história (vingança), pelo menos o Kirk esbanja classe e alguém exclama: "estou vendo uma cidade inteira querendo ver esse cara morto, ninguém lhe estende a mão, mas é o único fazendo a coisa certa". Continuamos assistindo esse filme, sob outros títulos. A menos que você queira ver durante um milhão de minutos (minha conta) o Di Caprio ferido se arrastando pela neve, ok, gosto é gosto, prefiro mil vezes esse ator noutros papéis, já mostrou o seu valor, me soa uma forçação de barra absurda as trombetas que emergem sobre "O Regresso" oriundas das corporações de comunicação.

Recebi de uma grande amiga, ontem, link do Youtube contendo cenas da Mocidade Independente de Padre Miguel fazendo críticas pertinentes ao grupamento instalado em Brasília desde janeiro de 2003. Encaminhei para alguns amigos. Sucesso absoluto. Um deles me respondeu assim: "Que prendam todos estes aproveitadores e causadores da dor dos pobres.... Eles são os donos do discurso da justiça social, e acusam as elites de exploradoras... mas nunca se roubou tanto e se desgovernou com tanta incompetência.... Que não seja tema de folia carnavalesca e termine em circo, mas que traga uma nova era de verdade, justiça e paz".

O Bloco Bola Preta, RJ, sábado de carnaval 2016, teve de parar (por instantes - como se contém 1 milhão de pessoas?) por causa dos gritos "pega ladrão", e as consequências dos gritos. No Bom Retiro, em Sampa, os carnavalescos também sentiram a ação de meliantes.

Oh sim, não vamos perder tempo com tolices óbvias: é uma festa muito bonita, com larga manifestação de alegria, muito trabalho e talento envolvido, sem dúvida, mas esse não é o tema da presente crônica.

A Sra. (ou Srta.?) Ju Isen, considerada Musa das Manifestações, destaque da Unidos do Peruche, Sampa, foi expulsa da avenida por despir parte de sua fantasia em protesto após ser impedida pela escola de usar um tapa-sexo com a imagem da presidente Dilma Rousseff.

Uma notícia tão relevante quanto a que se segue: a revista Popular Mechanics previu, em edição de 1949, que os computadores do futuro não pesariam mais do que 1,5 tonelada...

Em canalização da sra. Leslie-Anne Menzies, em 08/02 (essa sra. ousou canalizar no carnaval?!), vem a mensagem: "Durante as próximas semanas, é extremamente recomendável que vocês gastem tempo extra para se cuidarem. Sejam tolerantes consigo mesmos. Mesmo que o único tempo que vocês consigam dispensar em suas vidas agitadas seja para gastar em concentrar-se em vocês, fiquem tranquilos, tomem respirações cada vez mais profundas. Apenas sejam – apenas permitam. Relaxem, meus queridos, isso não significa correr, alcançar, lutar. Esse paradigma já passou. O momento é para desacelerar e acolher a sua nova vida de liberdade".

Nossa vidinha tropical prossegue impávida com confete e edições de imagens, ainda um tanto alheia ao processo coletivo de intenções mútuas, tapa-se um buraco, abre-se outro, com ou sem carnaval, e quando todos puderem falar com todos, não haverá mais segredos.



(Imagem: Vivian Maier, Nova Iorque, 1959)
Bernard Gontier
Enviado por Bernard Gontier em 09/02/2016
Reeditado em 30/06/2020
Código do texto: T5538376
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