Relatos de uma vítima

Estava escuro.

Não vi quando eles se aproximaram.

Sem que eu tivesse tempo, ou pudesse fazer alguma coisa, me pegaram.

Me debati, tentei me defender, mas não havia para onde fugir.

Eram muito mais fortes do que eu. E inteligentes também.

Em um piscar de olhos, introduziram umas coisas em mim, e me esvaí.

Num instante, e eu estava morta.

E, mesmo depois de morta, o brutal sadismo não parou. Destroçaram-me para apagar qualquer vestígio de que eu estivera ali.

Eu não estava sozinha, haviam pessoas próximas, sobretudo minha família, mas ninguém me defendeu.

Não sei pra quê tanto ódio.

Aqui donde estou agora, sei que não tive culpa pelo ocorrido, mas posso ver que há tantos e tantas que dizem que a culpa foi minha, que não era para eu estar ali naquele momento…

Mas eu só estava vivendo, ou querendo viver.

E há outros mais que dizem que o que aconteceu comigo deve ser um direito. Organizam-se politicamente, mexem com muito dinheiro e fazem até passeatas.

Sei que muitas e muitos passaram e passam pelo que passei. Se resume a uma palavra feia, tão feia quanto o ato horrendo que nomeia o que me vitimou:

Aborto.

Eudes de Pádua Colodino
Enviado por Eudes de Pádua Colodino em 09/02/2016
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