As frutas da minha infância

As frutas da minha infância

Incrível como pode que lembramos sempre com mais nitidez da fase feliz da nossa vida. Penso ser um processo da própria mente que seleciona o que acha mais conveniente. No meu caso, se vou falar (escrever) sobre frutas, é porque elas fizeram parte da minha infância. Não por causa das frutas em si, mas porque elas não foram compradas no mercadinho e muito menos no supermercado. Eram colhidas do pé, muitas vezes saboreadas ali mesmo, em baixo ou até em cima da própria árvore. Eis esta a diferença, delas com carinho lembro, porque fizeram parte do ambiente de amor e camaradagem em que eu vivia junto aos meus.

Pois bem, vamos às frutas.

Lá em casa, frutas e mais frutas, tantas! E eram as uvas, as brancas, as pretas, e as da cor rosa, a chamada champanhe. Dos pés de figo? Deles, até do leite que escorria quando ainda verdes, lembro. Mas e as laranjeiras? A tal laranja para fazer suco, a laranja chamada de umbigo, lembro que a palavra umbigo me intrigava, ficava eu olhando para ver onde ficava o tal do “umbigo”. Nossa, estas, as de umbigo, como eram graúdas! Tenho certeza que hoje não existem mais laranjas como as lá de casa, pelo menos não tão doces. Vai ver a doçura de que lembro, deve-se ao fato de elas terem sido plantadas pelos meus pais. Eram árvores sempre muito carregadas, cujos frutos pendiam quase até o chão. Até da laranja do céu eu lembro, isso também era algo que muito me fez pensar... porque do céu?

Mas e os moranguinhos que mamãe plantava? Na hora de colher, lá íamos nós, eu de cestinha de palha, para verificar se já podiam ser colhidos. Na época, para essas pequenas coisas não dava valor, pois tudo aquilo fazia parte do meu mundo, era algo natural. Que época feliz, moranguinhos bem maduros, rechonchudos tantos. Mas e as bananeiras? Bem, o cacho inteiro era levado para dentro da cozinha e colocado atrás do fogão (á lenha), acho que era para amadurecer mais depressa. Capítulo à parte, lembro com carinho dum pé de ameixa, cuja fruta não é muito apreciada, mas que mesmo assim, para mim era especial, porque ali podíamos subir. Eu e minha amiga, lá em cima, no alto da árvore com cachopas e mais cachopas à nossa volta, imaginem o esparramo...

Uma outra fruta, muito raro nos pomares hoje em dia, dela também lembro, era a lima. Lembram da lima? Amarelinha.... Minha mãe sempre chupava lima porque sabia dos seus poderes terapêuticos. O limão e a pêra também faziam parte do cardápio frutífero oferecido pelo nosso pomar. Assim como também o pêssego. Por falar em pêra, as árvores desta fruta eram quatro, dois pés de peras de pau e dois de manteiga. Quando uma mordida eu dava, ficava olhando para ver se via a manteiga, mas enfim, como era algo que parecia com manteiga, estava assim satisfeita a minha curiosidade. Muita pêra e muito pêssego para pouca gente, minha mãe fazia sobremesa e schimier, que era o doce para passar em cima do pão.

Mais para os fundos da casa, tinha também os pés de ananás. Puxa! Eu nunca gostei de ananás, muito azedo. Ficava pensando em porque não eram pés de abacaxi, que todos diziam parecer com ananás, mas que era uma fruta bem melhor, mais doce, mas eu a associava à praia, quer dizer, a sua plantação sabia que ficava lá longe, perto do mar.

Pois então, eu aqui destacando as frutas da minha infância, quando lembro também do nosso poço lá nos fundos da nossa casa, mas que de poço não era chamado. Era a cacimba, de onde minha mãe tirava a água para bebermos, para tudo. Mas bem, aqui não mais continuo porque senão acabo me desviando do meu propósito inicial, que foi o de falar das frutas da minha infância. Mas as frutas e tudo o que as envolveu, ainda hoje lembro e guardo com doçura no coração.