Nevoeiro Quaresmal

Nevoeiro Quaresmal






Meu filho me ligou ontem de noite, aturdido, com as imagens de um policial detonando um comerciante sírio na capital paulista. Em contrapartida, perguntei pra ele se ouvira acerca do prefeito maranhense que estuprou uma menina de 16 anos e ainda ganhou de seus compadres políticos 60 dias de licença remunerada.

A filha de uma amiga mergulhou de cabeça em estudos avançados do sr. Steiner, e, papo vai, papo vem, aflora o detalhe sobre essas grandes curiosidades da vida - o nome da escola fundada por Steiner originou-se de uma marca de cigarros.

Meu filho, que estava indignado com a treslouquice do polícia ficou mudo diante do prefeito estuprador.

A filha da amiga, que caminha para se tornar uma educadora de envergadura, comentou que Steiner bateu o pé com seus pares em 1920 e disse com mais elegância: chega desse modelo de educação oriundo da revolução francesa, estamos no séc. XX, precisamos de algo novo! Papo vai, papo vem, dissemos e não dissemos que já não se pode depender dos empregos do passado, que o conhecimento humano dobra agora a cada 5 anos, uma criança nascida hoje pode viver até o séc. XXII, e, (gostaríamos de ter dito) se cultivarmos a inovação e diminuirmos a burocracia essa criança pode liderar uma indústria totalmente nova, curar uma doença grave, atingir horizontes inimagináveis.

A sobrinha de um grande amigo está de quarentena com suspeita de ter sido vítima do mosquito. Ele, que acompanha de A a Z o que as TVs exibem e é um sujeito extremamente inteligente, já sintetizou tudo e fez o favor de me passar. A - ninguém sabe nada. B - a Copa trouxe infectados. C - a olimpíada espalhará infectados. Fim. Ah, ele exibe os números, capazes de deixar qualquer um apreensivo.

Alguém rouba a cena no nevoeiro Brasilis, a questão é: quem?

A tática usada pelo governo (qualquer governo) para subir ao podium é tão sofisticada que se equipara ao saudoso golpe do: ei, olhe! Seu cadarço está desamarrado! Nos anos 20 o sujeito ouvia isso, olhava para os sapatos e um punguista habilidoso lhe subtraía a carteira. Hoje a distração é arquitetada em várias frentes simultâneas com o objetivo do mesmo escambo do punguista e sua gangue.

Ocorre que não apenas carteiras são subtraídas, mas a própria noção de pátria no âmago de cada brasileiro. Basta pensar um pouco nas proporções do aqui e agora que sem demora flui à mente os contornos de uma conspiração tão grande que deixa pequeno qualquer outro caso anterior na história.

Somos sucessivamente e incessantemente espoliados por uma ganância que se diz governo. E querem mais impostos, leia-se CPMF. Disse recentemente um filósofo nas redes sociais que "dar"dinheiro para o governo é o mesmo que um pai patrocinar o filho usuário de entorpecentes para adquirir mais entorpecentes.

Enquanto isso nossos jovens ou aspiram a sonhos de saber, ou por segundos são nocauteados pela realidade, ou sucumbem face a incompetência de quem deveria, por obrigação contratual, mantê-los à salvo.

Quaresma é época de intensa movimentação de energia. Ou bem algum vento sopra para dissipar o nevoeiro ou a equação de sempre irá prevalecer: Os conspiradores devem vencer e nunca se sujeitar a qualquer processo.

A noção de pátria se esvai quando existe platéia para aplaudir os que minam a nação.

Segue um antigo ditado que, espera-se, tenha serventia:
"Toda a escuridão do mundo não pode apagar a luz de uma única vela.”



(Imagem: Nuvens feitas de tela e madeira, cenário para produção de ópera de Jean-Philippe Rameau, 1783)
Bernard Gontier
Enviado por Bernard Gontier em 16/02/2016
Reeditado em 29/06/2020
Código do texto: T5545780
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