O MEU FACEBOOK É UM IMENSO AQUÁRIO - Raul Franco

Eu tô com uma mania louca.

Eu entro nas redes sociais, principalmente o facebook, de maneira muito reticente, cautelosa. Deslizo pela tela, vou vendo alguns posts, algumas coisas vão piorando, de repente, já vejo vídeos de violência, pessoas reclamando da vida, xingando... Pulo fora, antes que eu me contamine. Sim, isso contamina. Quando você vir, já estará com alguns vícios, como o da reclamação.

O FACE PARECE VIDA MAS NÃO É.

Vejo pessoas precipitadas, compartilhando sobre a morte de alguma celebridade. Elas veem, tomam como verdade, e já compartilham. Outras pessoas lamentam, passam adiante para novas pessoas e logo todos "matam" a celebridade. Isso não é vida! Eu sei, você, em sua inocência, vai dizer: "Nossa, mas por que inventam uma coisa como essa?" Ok, devo te lembrar que o mundo tem as suas crueldades; tem pessoas que matam as outras na rua, no sinal, na praia, por motivo reles, logo, matar alguém virtualmente não é algo difícil de fazer.

O mundo é isso que vemos. E você é sim responsável pelo que você passa adiante, mesmo que você não se dê conta disso.

VOCÊ É RESPONSÁVEL PELO POST QUE COMPARTILHA.

Eu continuo passeando pelas redes sociais: eu e minha cautela. Olho para as pessoas que fazem parte da minha rede. Alguns me chamam de amigo e eu nunca os vi pessoalmente. Alguns defendem questões políticas que não tem nada a ver comigo. Pessoas dizem: "Ah, mas você pode desfazer a amizade, bloquear a pessoa". E eu pergunto: "Pra quê?" Eu devia era parar de estar tanto no facebook. Pelo menos, eu acho. Pois já perdi coisas muito melhores na vida, estando nas redes sociais. Mas... são escolhas. E é um tempo que não volta.

Sim, não gosto de bloquear ninguém nem desfazer amizades ("amizades" é ótimo!). Se fiz, conto nos dedos. Acho legal ter a minha rede social como um "aquário". Um grande aquário onde os humanos são meus peixes. Eu os observo. São importantes para a minha vida, já que escrevo sobre seres humanos. E adoro ver as contradições, o modo como se comportam. Sou um bom observador disso tudo.

E sempre acho patético quem avisa que vai deletar alguns amigos, que vai bloquear quem defende fulano ou beltrano... Pra quê? Vá viver a vida! Uma rede social muitas vezes é a "oficina do diabo". Você está desocupado, sem nada mais interessante para fazer. Vê a rede ali, ao seu alcance, e a sua mente vazia começa a teclar o seu vazio existencial. É isso.

E não gosto mais de julgar ninguém. Não tenho esse direito. Parto do princípio que tomos temos telhados de vidro. Então, não posso julgar mais ninguém. Eu mesmo posso ser um imbecil em determinadas situações. E sou. E sempre acho que quem avisa que vai bloquear alguém ou desfazer a amizade com alguém, quer, no fundo, mostrar que é melhor que alguém. Sejamos sinceros. Se algo ou alguém te incomoda, você tem os botões que resolvem isso ao seu alcance. E você pode fazer isso em silêncio. Se você grita nas redes sociais o que você vai fazer, pode ser um caso de carência. Uma simples carência avassaladora que precisa de espectadores.

No fundo, tudo é muito chato. Berrar coisas em redes sociais é chato. Distribuir ofensas é chato.

Olhar no olho do outro continua a ser legal e um desafio. Passar pelos outros, importando-se realmente com quem você cruza devia ser mais importante. Senão, tudo vira discurso facebookiano.

Como um filme que eu amo, Walking Life, acho mesmo que estamos virando formigas. E eu, às vezes, transformo-me em uma, e saio de fininho quando vejo os venenos, escorrendo dos posts. E penso: "Será que essa energia despendida é mesmo necessária?"

Enfim, sei lá, às vezes, sinto que preciso dizer algo... Ah, mas isso é um textão e as pessoas não gostam de ler. Imagine se eu tivesse esse pensamento quando comecei a ler Shakespeare.

Desculpa pelo textão. Desculpa por mim. Como diria Gessinger: "Muito prazer, meu nome é otário".

Raul Franco
Enviado por Raul Franco em 17/02/2016
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