SUSTENTABILIDADE EMOCIONAL

Em tempos em que o conceito de modernidade líquida é a base do nosso cotidiano, com a sua fluidez, incerteza e especialmente insegurança, é possível constatar que os parâmetros que foram a plataforma da sociedade aparentemente não estão conectados com a velocidade das informações e as pequenas transformações que vivenciamos.

A sensação de que o tempo passa mais rápido é proporcional a quantidade de tarefas e atividades que assumimos no dia a dia. Não podemos comparar épocas, considerando especialmente o desenvolvimento tecnológico dos últimos 50 anos. A possibilidade de controle de natalidade, a evolução dos transportes e meios de comunicações, a criação de um mercado de consumo que ao mesmo tempo abrange um maior número de pessoas, também acaba criando diferenças abissais entre os extremos das classes sociais.

Nesse emaranhado de novidades, somos expectadores de conceitos que são tão céleres que muitas vezes tornam-se efêmeros. Ainda somos testemunhas de gerações que não conseguem se identificar diante uma gama infindável de possibilidades. São tantas informações que não conseguimos processar e criar nossos próprios conceitos.

A partir do desenvolvimento dos conceitos de marketing, sabemos que há uma tendência de que as pessoas se identifiquem com aquelas que admiram... aliás, desde da antiguidade há as figuras mitológicas que inspiraram nossos ancestrais. A questão é que nesse momento passamos a criar identificação com idéias aparentemente desconexas, mas que suprimem a necessidade de questionar o básico: por quê ?

O conceito de Bauman é lastreado pela cultura do imediatismo, da adaptação e do artificial. Pessoas seguem conceitos que não entendem, simplesmente emulando e reproduzindo atos e atitudes. Isso sempre foi comum na política e na prática de religiões, mas desta vez está impregnado no tecido da malha social.

Com tudo isso, torna-se fácil ser quem realmente somos, manter a nossa autenticidade. A costura da moral e costumes se amoldou a elasticidade da cultura do politicamente correto. Porém, apesar de aparentemente robusta como conceito, vejo que a grande maioria da sociedade não está apta a vivenciar essa nova era.

Uma prova são os relacionamentos... continuamos sendo seres passionais, mas diante de tantas flexibilizações e modificações de condutas, o preceito de casal cada vez mais acaba se diluindo na individualização da pessoa.

Não acho equivocado a pessoa ter amor próprio; todavia, em um relacionamento é necessário ter habilidade para uma manutenção saudável. Apesar de ser irracional, vislumbramos inúmeros relacionamentos datados, que simplesmente não tem possibilidade de êxito... e quem vive essa história tem consciência disso, mas mantém a ilusão de que pode dar certo.

Sempre há exceções... mas especialmente nesses casos, há a necessidade de comprometimento, pois há cada dia parece ser mais complexo estabelecer uma empatia pelo companheiro. Fazer dar certo é algo que demanda esforços, e muitas vezes as pessoas não estão preparadas.

Apesar da racionalidade impregnada nesses conceitos, eu tenho a consciência da necessidade do elemento emocional para estabelecer uma conexão legítima nas relações amorosas... é o que chamo de sustentabilidade. Ser sábio ajuda a evitar sabotagens que minam a relação; amar é uma condição inerente a pessoa.

Àqueles que passaram por decepções amorosas, posso dar um conselho: não existe uma fórmula mágica para superar uma frustração, e desde sempre cada um lida de sua forma com esse período de luto. Não é vergonhoso pedir ajuda se achar necessário, mas recomendo utilizar uma das qualidades mais humanas que temos, que é a humildade.

As pessoas erram, acertam... e de certa forma são os defeitos e virtudes que fazem de nós seres singulares. Assim, mesmo vivenciando uma época pasteurizada e padronizada, é legítimo manter a nossa identidade sentimental. Afinal, nossa vida em sociedade faz com que tenhamos de interagir e cumprir com as nossas obrigações... porém, ela também assegura vislumbrar o conceito de felicidade que almejamos. Se vamos conseguir ou não, é uma outra história.

SEBASTIÃO SEIJI
Enviado por SEBASTIÃO SEIJI em 23/02/2016
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