O Soldadinho e a Bailarina

O sonho do soldadinho de chumbo era viver com a bailarina na caixinha. Dividir o parco espaço, assim como os segredos, as dúvidas, as incertezas e cada átimo de felicidade.

Ele dançava através dos passos delicados e ensaiados de sua musa, sentia o universo rodar ante seus movimentos e harmonizava-se com seu ritmo.

Ela fazia com que ele saísse do seu mundinho funcional repleto de muros e percebesse a vida fluir além de suas defesas, fazia com que ele desejasse se movimentar e ansiasse com o belo, o intangível, os sonhos, os desenhos nas nuvens, as setas invisíveis dos raios de luar e o além das fronteiras.

Ela via nele a segurança, a voz da experiência, o material, a linha que impedia que saísse de vez da Terra e vagasse sem rumo pelas estrelas, ela amava o amor que ele sentia, ele era o link entre ela e o amor em todas as suas manifestações, Philos, Ágape, Eros, suas raízes telúricas, a sua ponte para a eternidade.

A aparentemente ínfima caixinha era o universo que eles precisavam, transmutavam os grãos de poeira do tempo em ouro e viviam num microcosmo encantado.

Eram tão unos que às vezes não sabiam de quem era uma perna ou braço, entrelaçados no mais profundo abraço, compartilhavam sonhos para realizá-los plenamente, criavam novos caminhos para trilhá-los de mãos dadas, se amavam ao longo da noites para renascerem com as alvoradas, esperavam juntos a preamar para inundar seus corações de paixão e desaguarem no refluxo para o oceano dos amores infinitos. Não se importavam em quem sugeria e quem seguia, eram dois corpos em uma só alma, gêmeos, espelhados, dois lados complementares de uma mesma moeda, um equilibrava o outro e assim seguiam sua doce sina, o guerreiro quixotesco e a doce menina, o soldadinho de chumbo e a delicada bailarina.

Ello
Enviado por Ello em 25/02/2016
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