45 minutos aos 23 e aos 80

Saiu de casa andando mais rápido que de costume, poderia perder o ônibus por questão de minutos e tinha muitas coisas a fazer: consertar o óculos, comprar o presente e pegar a encomenda em uma loja. A lista não era grande, mas levaria tempo que ela não dispunha, não poderia perder o ônibus, afinal o próximo era só daqui a 45 minutos.

Chegando, quase correndo, no ponto de ônibus viu um senhor de aproximado 80 anos sentado apoiado na sua bengala, ele a fitou e ela perguntou apressada:

- O ônibus já passou?

- O das 9? Ainda não... - respondeu ele com serenidade.

- Ainda bem... - foi o momento dela relaxar e sentar-se ao lado dele.

- Mas não precisa se preocupar, daqui a 45 minutos tem outro - afirmou com um sorriso sereno.

Aquilo a pegou desprevenida, afinal ele não falou com desdém ou chacota, mas simplesmente com a sinceridade de quem não se importa em "perder tempo".

Começaram a conversar sobre trivialidades, logo ele contou que tinha problemas nas pernas por isso a bengala, que caminhada tranquilamente até ali quase todos os dias, via pessoas, conversava com elas e as via partir em seus ônibus.

Ela não duvidou de uma palavra se quer, e o ouviu e interagiu com ele. Quando seu ônibus chegou, ela se despediu e seguiu viagem sozinha, porém, ele não a deixou, dentro dela ele continuou presente.

No ônibus ela não pode ignorar o fato de ter 23 anos e estar correndo para não se atrasar 45 minutos enquanto um senhor com seus 80 anos não ligava para minutos perdidos.

Porque? Naturalmente falando, ele deveria achar precioso cada minuto, ele deveria ter pressa em não perder tempo... Então porque ela não queria perder? Ela que tinha toda a vida pela frente, com várias felicidades, tristezas, experiências e muito mais que a vida lhe guardava, então porque a pressa?

Porque querer passar a vida correndo, não aproveitando como aquele senhor? Simplesmente vivendo cada momento com serenidade.

Nossa vida atual não nos permite aproveitar todo o tempo como deveríamos, temos que trabalhar ou estudar (muitas vezes ambos) e esse ritmo desenfreado acabamos levando para a vida pessoal.

Mas não precisa ser assim, podemos brecar e aproveitar a brisa em nosso rosto sem dar motivos, ou parar e observar as cores e formas das flores, sentar e conversar com um desconhecido...

Não que seja fácil, mudar nosso ritmo desenfreado, mas vale a pena parar e pensar nele.

Afinal, é da nossa qualidade de vida que estamos falando.

Vania Afonso
Enviado por Vania Afonso em 06/03/2016
Reeditado em 06/03/2016
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