CONDUÇÃO COERCITIVA

Ao longo de seis décadas de existência, nunca prejudiquei alguém, conscientemente.

Apesar disso, já sofri perdas, roubos, calúnias e outras “boas ações” de “amigos”.

Resolvi transcrever particularidades do que vivi, por conta de arroubos e baderna que vemos, constantemente, em torno de prisões, delações e depoimentos de uns e outros, no tocante às investigações em andamento. Há erros para todos os lados.

Já comentei antes, que durante a ditadura, por diversas vezes fui xingado, surrado, cuspido, humilhado, preso, tive documentos retidos por meses, fui impedido de estudar, trabalhar, e nunca encontraram uma palha sequer, de prova ou indicação de que fizesse algo contra o governo. Na época, mesmo que tentasse demonstrar ou arranjasse testemunhas, não conseguiria reverter a desconsideração de agentes policiais e delegados. Depois que a barra aliviou e houve mudança “parcial” nas condições em que vivíamos (nunca radical), organizei minha situação e deixei o passado para trás, com lembranças pesadas e marcas profundas. Achei que o Estado de Direito traria paz e justiça, mas estava muito enganado.

Na década de oitenta, perdi muito dinheiro com planos contra a inflação e perdi alguns empreendimentos, nos quais empenhei tempo e dinheiro, por conta de oscilações constantes e irresponsáveis do governo, quanto à importação e exportação de peças e matéria prima. Parti para a prestação de serviço no agronegócio, e de novo fui surpreendido, após um ano e meio de dedicação à montagem de estrutura produtiva, com alteração profunda na tributação sobre o produto e distribuição. Em todas essas situações perdi tudo e tive de recomeçar do zero.

Na década de noventa, defendi empresas contra a voracidade e canalhice do governo, que além de taxar abusivamente a todos, sempre pôs no mercado (desde os tempos do império), títulos e obrigações, prometendo pagar aos investidores um xis de rendimento, para depois desqualificar tais papéis e fazer todo mundo de trouxa. Quando algum empresário apresentava um desses papéis, que deveriam valer eternamente, se o governo fosse honesto e cônscio de suas obrigações, para compensar débitos, era chamado de safado, malandro, e acabava sendo investigado por conduta suspeita ou má fé. Utilizando de ardis jurídicos, o governo processou todo mundo, inclusive advogados, o que assustou os empresários e findou com uma iniciativa legítima. A força venceu, novamente, a legalidade.

Eu acompanhei o PT desde os tempos dos portões de fábrica, não por afinidade, mas porque sempre fui observador e tinha de estar em lugares comuns a eles. Sempre fui contra a iniciativa violenta, como invasão, depredação e baderna, e também não considero legítima uma greve que prejudica a população, que é a característica de quase todas que ocorrem. Porém, ao entrar Lula no governo, esperei por mudanças, mas só vi maquiagem, distribuição de crédito e dinheiro (que não era reposto em caixa), muita agressividade e desqualificação de empresas que não se adaptassem ao jeito de ser dos que estavam em cargos decisórios. Ao invés de discussões acadêmicas e planejamentos plurianuais, vi brigas, disputas no braço, invasões, quebra quebras, xingamentos e ameaças, com perfil bastante parecido ao tempo da ditadura.

Os petistas reclamam da linha dura e excessiva da justiça e polícia, mas quando batem, invadem, quebram, bagunçam, não estão dando a mínima para a lei, que é manipulada para não incomodar tais baderneiros (principalmente MST). Nesse caso, nunca reclamam. Enquanto isso, gente simples, que rouba pra comer, apodrece na cadeia. Também não há reclamações.

A polícia costuma exagerar? Sim. A justiça é injusta? Também. Mas não só com o PT.

Eu e muitos outros (milhares) fomos maltratados, conduzidos coercitivamente, sem ter tido oportunidade de ser intimados antes, de forma padronal. Nunca tive rabo preso e também não agi fora da lei, mas fui tratado como meliante, sem provas, sem condenação, sem nada.

Vejo bagunça, gritaria, e muitos reclamando do tratamento recebido pelo ex presidente. Ora, ele está sendo muito mais bem tratado do que eu e outros tantos foram. Se há exageros na ação da polícia, há também nos recursos imorais dos advogados, mesmo que legais.

Ele não é especial. É cidadão comum, que tem de encarar o que qualquer outro cidadão encara, ou seja, tratamento no SUS, metrô, ônibus, salário mínimo, uma só aposentadoria, pelo fator previdenciário, processo e prisão (se preciso) padronais.

Quando golpistas republicanos assumiram o poder, no final do século dezenove, logo mandaram um oficial comunicar a Dom Pedro II, que sua família deveria embarcar e sair do país imediatamente.

Mesmo tendo condições de reagir, o imperador aceitou a ordem e disse que nenhuma gota de sangue deveria ser derramada por ele. Morreu pobre em Paris.

Lula esperneia e grita, chama militantes, está rico e quer briga, doa a quem doer.

Essa é a diferença entre um verdadeiro estadista e alguém que se vê como um.

nuno andrada
Enviado por nuno andrada em 07/03/2016
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