DO ALTO DO MORRO

Não haviam preocupações com o ambiente quando finquei minhas raízes aqui no alto do morro, nesta terra conhecida pelas "belas tardes amenas e lindas noites serenas".

De onde nasci, via-se a beleza de uma serra de japis, dos rios correndo livres repletos de jundiás! A mata ciliar a envolver o curso d’água como que fazendo um carinho em sua proteção; o som variado dos pássaros e tantos outros animais deste lugar... Cenário onde eu cresci, sorvendo da terra só o que precisava para o meu sustento.

O tempo foi passando, e com ele vieram as bandeiras: um movimento que desbravou novas rotas pelas riquezas do interior do país. Homens aqui vieram, passaram, ficaram... Conquistando e transformando a geografia, seguiram alterando o equilíbrio entre a fauna e a flora, buscando saciar os seus anseios: as riquezas, o conforto, o luxo por uma vida melhor!

Assim, das florestas surgiram campos de pastagens e plantações; ergueram-se vilarejos, que formaram cidades; animais foram brutalmente caçados, domesticados, confinados, extintos; rios tonaram-se canais, de tão assoreados pelo corte da mata que outrora os envolviam; selvas contemporâneas de pedras, em casas, pontes, prédios, viadutos.

Drástica mudança de um lugar, pacato e sereno de outros tempos, quando a revolução industrial aqui chegou. Acresceram-se fábricas, indústrias e tantos mecanismos que prometem (até nos dias de hoje) alterar a vida selvagem, mas trouxeram a selvageria por querer a melhor habitação, o melhor e mais rápido meio de locomoção, a qualidade (ou seria a falta dela?) da vida dos seres humanos.

Num passado vi nascer a “Jundiahy” por seus barões, nobres médicos e sapientes educadores. Com eles o poder, a cura e a alfabetização, refletidos no presente com seus nomes estampados em ruas, escolas e palácios públicos. Transformaram nossa sociedade sim, mas com um preço bem alto pela transgressão – e em muitos casos agressão – à mãe natureza.

Acompanhei cada parte dessa estória, assistindo lá do alto do morro... Sem entender como o progresso do homem não conseguiu compreender a importância de sua coexistência com a mãe natureza. Não soube ouvir os seus sons! Tornou-se uma ameaça a si mesmo.

E hoje nesse morro, bem ao lado do barão e defronte à escola, já não mais estou presente, pois cortaram minha raiz. O espaço que eu antes ocupava ganhará, muito em breve, um novo e pujante significado aos contornos da cidade. Minha última esperança é que as brisas que tanto me acariciaram tenham cumprido o seu papel: de levar em viagem, ao sabor dos ventos, minhas sementes pra um recanto mais seguro.

É lá que meus ipês irão florescer em brancos, amarelos, roxos ou rosas, como um dia neste morro eu floresci. "Aqui o jardim é um paraíso, e jamais se pode imitar este céu com suas cores e lindos fulgores, pois em seus campos, com tão belas flores", a vida renasce a cada novo germinar.

(passagens entre aspas adaptadas do Hino de Jundiaí)

Danilo Rodrigues de Castro
Enviado por Danilo Rodrigues de Castro em 11/03/2016
Código do texto: T5570443
Classificação de conteúdo: seguro