O TREM DA MINHA VIDA

CRONICA

O TREM DA MINHA VIDA

No dia 29 de março de 1951, precisamente às 16 horas, no distrito de Wanderlândia município de RUBIATABA norte do estado de Goiás, eu embarquei no trem da minha vida. O destino deste trem era percorrer o maior caminho possível entre as duas extremidades eternas.

O percurso desta longa viagem até chegar à primeira estação foi difícil. Este trem Teve que ser interrompido algumas vezes para cuidar do meu sarampo, da minha varicela, de quatro fraturas que tive no braço esquerdo e outras doenças menos grave no decorrer desta viagem. Entretanto apesar das dificuldades e da inexistência da tecnologia global daquela época, foi o período que mais marcou a minha vida. Há! Se eu pudesse eu faria voltar o tempo para percorrê-lo novamente. Como eu era feliz com a proteção da minha mãe, do meu pai e a companhia dos meus irmãos. A gente se divertia muito e éramos uma família muito feliz

Eu viajei no trem da minha vida até os 12 anos de idade repleto de sonhos fantasias,até chegarmos à primeira estação. Tudo que eu não queria aconteceu naquela parada. Para minha surpresa, entre os passageiros que desceram daquele trem para tomar um caminho diferente do meu estava meu pai e meus dois irmãos mais velhos.

Ali eles desceram, sem entender o que estava acontecendo o trem seguiu viagem, eles tomaram um rumo ignorado e eu fiquei olhando eles pela janela até o trem sumir de vista na primeira curva do caminho.

Fui obrigado a seguir a minha viagem no trem da vida somente com minha mãe e minha irmã ao lado de muitos passageiros desconhecidos, mas passageiros que tinham o mesmo destino e no decorrer do tempo foram tornando pessoas amigas e importantes na minha vida. Dali por diante aquela viagem não teve mais o encanto da vida por muito tempo. Perdi um pouco o brilho e o prazer de sonhar com o futuro da minha vida. Senti vontade de parar e descer daquele trem e acompanhar meu pai e meus irmãos, mas teria que fazer a escolha entre meu pai e minha mãe. Preferi seguir viagem com minha mãe. Por que aquele era o meu destino, sem contar que minha ma~e e minha irmã naquele momento precisavam muito mais da minha companhia.

Parar o trem da vida não depende só da gente. Às vezes a viagem pode até ser interrompida para sempre nos primeiros metros do caminho a ser percorrido. Mas mesmo diante de tantas catástrofes que muitas pessoas encontram no trem das suas vidas, minha viagem Não foi diferente. Pra minha sorte eu fui vencendo estação por estação. Aos 28 anos de idade depois de já ter passado por tantas estações difíceis e até indesejáveis, no dia 05 de janeiro de 1980, o trem da minha vida passou na estação do amor, onde eu encontrei alguém muito especial que movida pelo sentimento da paixão, decidiu me fazer companhia no trem da minha vida até a minha ultima parada.

Daí por diante apesar da minha mãe e minha irmã não poder me acompanhar tão de perto, a minha viagem ficou muito mais divertida. A próxima parada foi na estação da cegonha. No dia 10 de abril de1981, onde embarcou no trem da minha vida o meu primogênito. Ficamos muito felizes com mais um passageiro que nos trouxe muita alegria e prazer para continuarmos a nossa viagem no trem da vida. Ficamos tão felizes que decidimos fazer mais duas paradas na estação da cegonha bem rapidinhas. No dia 25 de setembro de 1982, e no dia 12 de outubro de 1985, entraram nesse trem da minha vida mais dois passageiros muito importantes, que sem duvida completaram a razão para que, eu e a minha companheira encontrássemos muita sabedoria e força para continuarmos nossa viagem, retirando todas as pedras encontradas nos trilhos por onde havia de passar o trem da minha vida até percorrermos o mais longo caminho possível.

Mais tarde encontrei novamente em outra estação, meu pai e meus dois irmãos que haviam se separados de mim há vários anos atrás. Foi uma alegria imensa, poder viajar por mais algum tempo juntos outra vez. Minha mãe e minha irmã, mesmo distante sempre estavam presentes na minha viagem.

Mas não demorou muito tempo, o trem parou na estação da saudade e eu tive que ver meu pai descer desse trem da minha vida para sempre. Desta parada eu nunca me esqueci, foi muito difícil seguir na minha viajem sem a sua presença mesmo que fosse de longe. ainda hoje me recordo daquela data: Foi no dia 30 de outubro de 1996.

Daí por diante eu tive que tomar as minhas próprias decisões sem os bons conselhos do meu velho pai, que sempre teve uma opinião certa na hora certa.

A viagem continuou e no dia 29 de abril de 2004 o trem da minha vida chegou à estação da cultura. Senti-me em outro mundo. Percebi que a leitura da asa a imaginação e ajuda as pessoas conhecerem o universo sem sair de casa. Foi lá que eu descobri que eu poderia ser o autor da minha própria história. História que eu resolvi escrevê-la, mesmo depois de já ter percorrido um longo trecho da minha vida. Daí por diante eu passei a conhecer milhares de pessoas intelectuais que também viveram esta longa aventura no trem da vida e na sua ultima estação foram imortalizados. Imortalizados por que, escreveram suas historias e as historias de muitas outras pessoas importantes.

Depois da estação da cultura o cenário da minha viagem ficou muito mais romântico e poético. Passei a registrar cada momento importante que eu fui vivendo no decorrer da minha viagem. Mas tem um momento que eu jamais queria registrá-lo na minha historia. Há! Como seria bom se no trem da vida a gente encontrasse pelo caminho, apenas as flores perfumadas sem espinhos.

No dia 14 de maio de 2015 o trem da minha vida parou novamente na estação da saudade e eu tive que me despedir da minha mãe para sempre. Como foi difícil vê-la sair do trem da minha vida pra nunca mais voltar. Eu me despedi dela naquele momento muito abatido, senti vontade até de desistir daquela viagem mas, diante do vazio que ela deixou na minha vida, ficou honra, a dignidade e a certeza do seu dever cumprido.Tudo que tem começo tem fim. Um dia a minha viagem também vai chegar ao final do caminho na minha outra extremidade eterna. Tudo que eu peço a Deus é que nunca me falte fé e esperança para continuar minha viagem enquanto ele permitir e que neste dia, eu esteja preparado para encontrar com todas as pessoas que um dia viajaram comigo, no trem da minha vida lá no reino celestial.

Hélio Rodrigues Braz

Membro fundador da A. A, L.

Cadeira de N 10

goiano
Enviado por goiano em 11/03/2016
Reeditado em 16/07/2016
Código do texto: T5570739
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