Traços históricos da educação de 1874
 
Luiz Carlos Pais
 
 
Essa crônica registra alguns traços históricos da instrução primária, nos últimos anos do Segundo Império, tomando como cenário a cidade de São Sebastião do Paraíso, no sudoeste mineiro. Sem pretensão de contar a história com a amplitude necessária, a intenção principal é rememorar mestres pioneiros cujos nomes estão inseridos nos relatórios do governo de Minas Gerais, procurando entender o quadro social no qual o ensino das primeiras letras estava inserido, quando não havia ainda consolidada a ideia de que ao Estado competia manter o direito à instrução das classes populares.
 
O capitão José Theodoro de Souza, nomeado no cargo público de delegado de política, também acumulava o cargo de delegado da instrução pública e particular de São Sebastião do Paraíso, em 1874. Ao mesmo tempo, era identificado como um dos capitalistas do comércio local, expressão usada até mesmo nos meados do século XX para designar cidadãos com posses que emprestavam dinheiro a juros, muito antes de serem instaladas as primeiras casas bancárias na cidade.
 
No mesmo ano de 1874, José Pedro dos Santos exercia o cargo público de professor de instrução primária para meninos, enquanto sua esposa, Dona Angélica Cândida da Silva Santos também exercia o magistério público primário para meninas. Ambos eram funcionários do governo provincial de Minas. Entretanto, além de exercer o magistério, o professor José Pedro dos Santos era o agente dos Correios da cidade, serviço que não lhe tomava muito tempo, pois as pessoas interessadas em enviar ou receber uma carta deveria procurá-la em sua residência, onde o casal ministrava as aulas púbicas.
 
A cada intervalo de cinco dias, passava por São Sebastião do Paraíso um estafeta que vinha de Passos com destino à vila de Cajuru, na Província de São Paulo. São informações anunciadas no Almanach Sul-Mineiro, publicado em 1874, de Campanha da Princesa, Minas Gerais. Com base nesse periódico, temos o registro de algumas informações de São Sebastião do Paraíso, onde 150 alunos estavam matriculados nas duas aulas públicas, uma para meninos e outra para meninas, e mais uma aula particular de Primeiras Letras.
 
Esse casal de mestres pioneiros atuou no magistério público paraisense pelo menos por uma década, com base ainda no mesmo periódico, porém editado em 1884. Nesse ano, consta que o inspetor Manoel Ignacio de Miranda exercia o cargo de curador geral dos órfãos do município, em cujas terras começavam a ser plantadas as primeiras grandes fazendas de café. Já estava funcionando uma linha de São Sebastião do Paraíso à Mococa, São Paulo, de cinco em cinco dias, e outra para Santa Rita de Cássia, de 10 em 10 dias. As notícias da corte chegaram à cidade com cinco dias de demora. (Almanak Sul Mineiro, 1884)